Instituto de Previdência da Prefeitura de Petrolina investe R$ 980 mil em empresa de doleiro investigado

por Carlos Britto // 20 de maio de 2014 às 10:38

Prefeitura1Fundos de previdência de servidores públicos devem zelar pela segurança do investimento dos funcionários, considerando também as melhores condições de rentabilidade. Mas quando essas entidades são loteadas por indicados políticos em administrações municipais e estaduais, nem sempre o servidor fica em primeiro lugar, como mostra o passado recente de captação de recursos da Marsans Brasil. Apesar das graves dificuldades financeiras que a empresa enfrenta, pelo menos sete fundos de previdência de funcionários públicos injetaram dinheiro de aposentados na agência de viagens. A operadora de turismo foi fundada em 1973 no país e é controlada pelo doleiro Alberto Youssef desde meados de 2010. Desde março, Youssef passou a ser conhecido também como um dos pivôs do esquema de lavagem de R$ 10 bilhões, investigado pela Polícia Federal na operação Lava-Jato.

Documentos obtidos pelo site de VEJA revelam agora que entre 2012 e 2013 – ou seja, sob o controle de Youssef – a Marsans Brasil conseguiu angariar cerca de R$ 23 milhões de fundos de previdência dedicados a garantir pensões de servidores aposentados. Só o Instituto de Gestão Previdenciária do estado do Tocantins aplicou R$ 12 milhões na empreitada. Também tornaram-se investidores na empresa do doleiro os fundos municipais de previdência de Cuiabá (MT), que desembolsou R$ 3,4 milhões; e Paranaguá (PR), que gastou R$ 2 milhões. No Nordeste, o fundo de Amontada (CE) gastou cerca de R$ 1,6 milhão e o de Petrolina desembolsou R$ 980 mil. Hortolândia e Holambra, duas cidades do interior paulista, aplicaram respectivamente R$ 1,5 milhão e R$ 980 mil para virar sócias de Youssef.

A situação financeira da agência também causa estranheza. Apesar da milionária injeção de recursos feita pelos fundos desde 2012, a Marsans enfrenta dificuldades. Em relação ao fim do ano passado, as compras de passagens aéreas pela companhia caíram drasticamente neste primeiro semestre, o que sinaliza que menos clientes contrataram viagens e o faturamento diminuiu.

Finanças

Em e-mails interceptados pela Polícia Federal, Youssef prometia injetar dinheiro para socorrer a Marsans. Em 30 de dezembro de 2013, o doleiro é cobrado pelo diretor-geral da agência, Luiz David de Almeida Lourenço, que pedia transferências para a empresa. “Beto, desculpe mas vamos ter problemas (mais). A TED não entrou em nossa conta até agora. Tem como vc falar com quem iria fazer e me voltar?”, cobra Luiz David, como é conhecido.

O advogado Antonio Figueiredo Basto, que defende Youssef na Justiça, afirma que a Marsans é “um negócio lícito” do doleiro. “Se fundos de previdência resolveram investir na Marsans, quem tem de responder são eles. Muitas das coisas que Alberto tentava fazer eram legais. Eu particularmente desconheço que tenha ocorrido irregularidade em relação a fundo de pensão”, afirmou Figueiredo Basto ao site de VEJA.

Procurado pelo site de VEJA, Luiz David não esclareceu o destino dos recursos tratados com Youssef. Ele alega que foi diretor-administrativo da Marsans Brasil de janeiro de 2013 a 11 de abril deste ano, quando renunciou. Mas funcionários diziam, na última quarta-feira, que David ainda era o CEO (diretor-executivo) da companhia. Indagado sobre a contradição, ele disse que aceitou permanecer como consultor da Marsans até ser contratado novo diretor para a empresa.

Nenhum fundo de previdência esclarece por que foram feitos os investimentos no fundo de Youssef. A assessoria de imprensa do atual presidente do Instituto de Gestão Previdenciária do estado do Tocantins diz que os aportes foram feitos em gestão anterior, de Luciano Silbernagel. Procurado, Silbernagel alega que desconhecia a aplicação no Viaja Brasil e responsabiliza o gestor Edson Santana Matos pelos investimentos. Matos não foi localizado. O governador Siqueira Campos (PSDB) e o vice-governador João Oliveira (DEM) renunciaram aos cargos em abril para concorrer nas eleições de outubro. O fundo de pensão dos servidores do governo de Tocantins também foi um dos que mais perdeu dinheiro com a aplicação de recursos em títulos lastreados em empréstimos do banco BVA — que teve recursos desviados pelos administradores e deixou um rombo de R$ 4 bilhões.

O presidente do Instituto Municipal de Previdência Social dos Servidores de Cuiabá, Bolanger José de Almeida, também responsabilizou a gestão anterior pelo investimento no fundo controlado por Youssef. Mas documentos do Ministério da Previdência só mostram aplicação no fundo Viaja Brasil a partir do segundo bimestre de 2013 — portanto, sob a gestão de Almeida. Ele assumiu o cargo no começo da gestão do prefeito Mauro Mendes (PSB). Almeida diz que estuda medidas judiciais para preservar os investimentos na Marsans. “Eu estou preocupado com a situação, porque a empresa está com dificuldades financeiras e não dá para entender, pois vivenciamos um momento extremamente aquecido do turismo brasileiro. Queremos contratar uma auditoria e saber se houve desvio de recursos”, afirma o presidente do fundo de previdência dos servidores de Cuiabá.

Almeida é um dos dirigentes de fundos de pensão que participaram de assembleias do fundo Viaja Brasil nos últimos meses. Carlos Alberto Pereira da Costa e Matheus Oliveira dos Santos – comparsas do doleiro que respondem na Justiça por crimes investigados pela operação Lava-Jato – eram representantes de Youssef no Conselho de Administração da Graça Aranha RJ Participações. De acordo com a Polícia Federal, Pereira da Costa comandava diversas empresas do doleiro.

Investigações

Youssef ganhou notoriedade nacional no começo dos anos 2000 por ter remetido bilhões de dólares para fora do país por contas do banco Banestado. Acabou condenado por evasão de divisas, mas fez um acordo de delação premiada com a Justiça Federal, pelo qual entregou informações importantes para a investigação e conseguiu punição mais branda do que era esperado. A única exigência era que ele não voltasse a cometer crimes. Mas, durante as investigações da peração Lava-Jato, a PF encontrou indícios de que Youssef voltou a comandar um esquema de lavagem de dinheiro. Ele começará a ser julgado em junho pelos crimes de lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa, evasão de divisas e operação indevida de instituição financeira.

Além de inúmeras operações ilegais de entrada e saída de dólares do país, desde pelo menos 2010 ele ajudava na coleta de recursos para campanhas de políticos. Nos últimos meses, esbanjava intimidade com o poder. Tinha contatos frequentes com os deputados federais André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (SDD). Articulava negócios com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, com quem é acusado pelo Ministério Público de ter desviado mais de R$ 8 milhões de obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. E é acusado ainda de comandar um laboratório farmacêutico que conseguiria faturar até R$ 35 milhões, em cinco anos, na venda de medicamentos com uma parceria chancelada pelo Ministério da Saúde.

Comentário Meu:

Esse investimento do Igeprev de Petrolina é muito esquisito. Investir em uma empresa de um doleiro que agora é investigado pela Policia Federal?  Normalmente se aplicam assim em fundos de muita credibilidade, como títulos do governo, etc. Quem são os dois conselheiros em Petrolina que deveriam fiscalizar isso? O que fazem?

Ao menos um vereador podia pedir, por requerimento aprovado pelo plenário, informações, cópias dos extratos dos últimos 6 anos, cópia da folha de aposentados e pensionistas do mesmo período. É preciso checar se investimentos atabalhoados causaram prejuizos aos pensionistas de Petrolina.  Não é a primeira notícia nebulosa envolvendo o Igeprev coordenado pela Prefeitura de Petrolina. Já pedimos esclarecimentos a prefeitura sobre mais essa informação.

Instituto de Previdência da Prefeitura de Petrolina investe R$ 980 mil em empresa de doleiro investigado

  1. pedro caldas disse:

    Caro Amigo Carlos Britto: A sua matéria é muito preocupante. Como Membro do Conselho Deliberativo recém empossado, posso afirmar que vamos estudar o caso minuciosamente. O dinheiro não é do Prefeito e nem do Diretor Presidente do IGEPREV; ele é nosso(do servidor municipal).
    Assim como estamos tentando entender como a obra de Construção do Prédio do Instituto está há 02 (dois) anos e meio em construção e já se gastou quase R$ 1 milhão e a obra está abandonada…
    O Conselho Deliberativo e o Fiscal estará atento as atividades do IGEPREV…

  2. Cadê Ronaldo disse:

    CADÊ NOSSO FISCAL RONALDO CANCÃO, URGENTE, APAREÇA E FISCALIZE ISTO. Bota a boca nos microfones…

  3. Pedro Henrique disse:

    Só de 2009 a 2014? Por que não investiga desde do início da criação do IGEPREV? O pau que bate em Zé bate em José!!!!!!!!

  4. Anderson disse:

    Vish…Júlio Lóssio não quer deixar nem o povo se aposentar. Todo mundo idoso e com um salário mínimo de aposentadoria via RGPS.

  5. muriçoca disse:

    Quem era o presidente do IGEPREV na época?
    Alguém poderia responder?

  6. Dalva Benevides de Melo disse:

    QUERO saber como ira ficar,o servidor aposentado não foi informado a esse respeito o IGEPREV,NUNCA PERTENCEU a nenhum prefeito muito menos ao presidente, quem deve gerir o iigeprev UM SERVIDOR indicado em assembléia pelo servidor e fiscalizado pelos servidores.

  7. Maria Esse disse:

    Vixe… Oxente… até a IGEPREV? Agora aumentou foi o medo, logo EU/ Servidora…

  8. ANTONIO MARCELO ALMEIDA LOIMA disse:

    Quem era o diretor do instituto neste período?

  9. XANDE disse:

    agora contrataram empresa PAR ENGENHARIA FINANCEIRA, braco da PLENA INVESTIMENTOS, investigadas na operacao fundo perdido… tendo todos os socios sido indiciados, bem como os GESTORES EVOCATI, INCENTIVO E ATICO, ESTA ULTIMA INSTITUTO PETROLINA INVESTIU R$ 5.860.000,00… LEMBRANDO QUE A ATICO DESVIOU MAIS DE 15 MILHOES DE REAIS PARA AS EMPRESAS DO GRUPO PLENA, TUDO COMPROVADO NOS AUTOS DO INQUERITO POLICIAL 372/2012, POLICIA FEDERAL DE SAO PAULO

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