Daniel Francisco Coelho da Silva tem 21 anos e nasceu com paralisia cerebral. Só aprendeu a andar depois. Apesar de todos os problemas, o rapaz é muito inteligente. Sua fala difícil é um contraste com o seu sorriso fácil. E franco.

Se inocência tivesse endereço, moraria nele. Seu olhar é doce todo o tempo e só tem o olho de tigre quando está competindo.

Sua garra lhe deu uma grande coleção de medalhas e troféus. Talvez ele nem saiba o tamanho de suas façanhas, mas é campeão brasileiro de atletismo por duas vezes (2009/2010) nas categorias 800 e 1.500 metros.

Daniel é de origem humilde, mas não passa fome nem dificuldade, pois sua família é valente. Gente de fé e de trabalho, mas que ainda deve as passagens dele de outras competições e paga com o cartão de crédito de um amigo da família.

Sem apoio ou patrocínio, Daniel persistiu no sonho de ser um grande atleta treinando com a ajuda de um professor voluntário – Marciano Barros, um abnegado.

Mas, apesar da decepção e do abandono, Daniel já partiu para Guadalajara cheio de esperança e força de vontade para trazer para o seu país, seu estado e sua cidade um lugar de destaque também em um pódio internacional.

Brinquei com ele, dizendo para ele não perder do Argentino (campeão Sul Americano), caso contrário não o deixaríamos entrar mais na cidade. Ele riu à beça. Sua mãe endividou novamente a família e foi levá-lo até São Paulo. Para o México não poderia ir mesmo, mas se recusou a despachar o filho sozinho até lá: “Ele não é uma encomenda, um embrulho, pra gente jogar num avião com a placa de entrega. É amado demais para isso”, me disse ela com voz embargada, não admitindo seguir esse conselho que recebeu.

Só encontrei Daniel na noite que antecedia seu voo. Pude apenas lhe oferecer a promessa de que o Blog faria uma campanha (que escreveremos no próximo post) para ajudá-lo. Ele riu e balançou a cabeça generosamente. Penso mesmo que só dei a ele o que ele, até agora, está cansado de ouvir: promessas.

Saí de lá com o coração apertado, só não mais do que agora, quando escrevo esse texto.

Acredito que um mais um é sempre mais que dois. Se não temos caixa nem gorda conta bancária, unidos poderemos ajudar um pouco. Vamos precisar de todo mundo.

Daqui a pouco lançaremos a campanha do Blog para ajudar Daniel. Sem crítica política e sem mágoa ou rancor. Mas tiraremos do ar imediatamente, se a prefeitura se comprometer em assumir sua parte.

Porque agora aprendemos com Daniel que a simplicidade pode produzir milagres e que a vitória nem sempre é de quem chega primeiro, e sim de quem é melhor como pessoa humana. Como Daniel, quem nem sabe, mas nos faz sentir melhores apenas torcendo por ele.