Em um episódio que mistura política e surrealismo, o prefeito de Belo Jardim, no Agreste de Pernambuco, Gilvandro Estrela (União Brasil), inaugurou o seu próprio túmulo no Cemitério Municipal São João Batista. O evento, realizado na noite da última quarta-feira (8), ganhou rapidamente as redes sociais por seu caráter inusitado, sendo comparado por muitos à trama da novela O Bem-Amado, de Dias Gomes, e ao seu famoso personagem, o prefeito Odorico Paraguaçu, obcecado por inaugurar um cemitério.

A solenidade contou com a presença de amigos, aliados políticos e curiosos. Imagens que circularam nas plataformas digitais mostraram o prefeito à frente do jazigo, com discursos, a trilha sonora de “Ave Maria Sertaneja”, de Luiz Gonzaga, e a participação de um sanfoneiro.

O prefeito, reeleito nas últimas eleições (com 72,69% dos votos válidos, segundo o TSE) justificou a iniciativa como um ato simbólico, de caráter introspectivo e espiritual, para relembrar a importância da finitude humana e o respeito à memória dos que se foram. Durante a cerimônia, Gilvandro Estrela afirmou sentir “os amigos e seresteiros que já partiram ali presentes“.

A prefeitura municipal garantiu, em nota, que a iniciativa foi de cunho estritamente pessoal e não utilizou recursos públicos.

Repercussão e Críticas

A atitude dividiu opiniões e gerou ampla repercussão, com internautas e a imprensa local e nacional oscilando entre o espanto e a crítica. Alguns veículos de comunicação destacaram a ironia da cena, que transforma um espaço de luto em palco para um evento público, evocando o tom de realismo mágico que permeia a política brasileira.

Enquanto a inauguração de obras como escolas e hospitais é o padrão para a celebração de gestões, a escolha por eternizar o nome garantindo o “endereço final” antecipadamente reforça, para os críticos, a tendência da política nacional em priorizar o espetáculo em detrimento de ações administrativas.

Um dos principais desafios de Gilvandro Estrela à frente de Belo Jardim, cidade polo do Agreste pernambucano, é a gestão, que apesar de reconhecida por investimentos em áreas como a saúde, já foi alvo de acusações e controvérsias ao longo de seu mandato. O episódio, no entanto, cimenta a fama do prefeito de imprimir um traço peculiar e simbólico em seus gestos públicos, mantendo-o no centro das discussões políticas do Estado.