Atingidos por mineração no norte baiano relatam danos sociambientais em reunião com Estado

por Carlos Britto // 21 de outubro de 2023 às 16:29

Foto: Ascom CPT Juazeiro/divulgação

Trabalhadores e trabalhadoras rurais de diversas comunidades dos municípios de Campo Alegre de Lourdes, Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso e Sento Sé – no norte da Bahia – participaram, na tarde de ontem (20), de uma reunião com uma Comitiva Institucional do Governo da Bahia. O encontro, realizado na Casa Dom José Rodrigues, em Juazeiro (BA), foi um momento de escuta às comunidades camponesas, principalmente, em relação aos danos socioambientais provocados por empreendimentos minerários em seus territórios.

A Comitiva do governo estadual foi composta por representantes da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e secretarias de Relações Institucionais (Serin); de Justiça e Direitos Humanos (SJDH); de Ação Social e Desenvolvimento Social (Seades); e de Promoção e Igualdade Racial (Sepromi). A reunião contou ainda com a presença do bispo da Diocese de Juazeiro, Dom Beto Breis, e de agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Pastoral dos Pescadores; integrantes do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop); do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa); do Sindicato de Trabalhadores/as Rurais de Remanso; assim como de integrantes de organizações de fundo de pasto e docentes de universidades. Oficiais do Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros também estiveram presentes.

A professora Maria Francisca Oliveira, da comunidade Pascoal em Sento Sé, deu início à série de depoimentos das comunidades. Ela pontuou diversos problemas enfrentados desde a implantação da Tombador Iron Mineração, que extrai minério de ferro na Serra da Bicuda. “Nós estamos vivendo um inferno“, disse a professora, ao relatar que a população não consegue mais ir e vir com tranquilidade na estrada, devido ao grande fluxo de carretas; nem plantar e criar animais como antes; e que há muitas crianças sofrendo com doenças respiratórias.

O que está chegando não é política pública, é do extermínio. Qual é o projeto do governo do Estado para as comunidades lá? O que está chegando pra gente não é projeto de quem cuida, de quem zela“, desabafou Francisca. Márcio Liberato, da comunidade Retiro de Baixo, também atingida pela mineradora, acrescentou que as comunidades não foram ouvidas para implantação do empreendimento. “Não houve consulta prévia, nos trataram como invisíveis“.

Os participantes da reunião chamaram a atenção para outros problemas que surgem após a exploração mineral, a exemplo da grilagem de terras. O caso do território de Angico dos Dias, em Campo Alegre de Lourdes, foi citado diversas vezes. O território, composto por cinco comunidades tradicionais de fundo de pasto, é atingido pela mineradora Galvani há quase 20 anos. Nos últimos anos, a população local vem enfrentando várias tentativas de grilagens de terra, inclusive, resultando em tentativas de homicídios, no dia 2 de setembro deste ano. Além disso, há cerca de duas semanas, o território de Angico dos Dias vem sendo alvo de diversos focos de incêndio. O fogo está destruindo a caatinga e roças de lideranças comunitárias.

Documento

Durante a reunião, a CPT apresentou e entregou um documento à Comitiva com diversos indícios de grilagens cartoriais na região e solicitando uma apuração do Estado da Bahia sobre o assunto. A Pastoral também cobrou a punição dos autores das tentativas de homicídios em Angico dos Dias e cobrou esclarecimentos sobre a suspensão de atividades da Tombador Iron Mineração. Em comunicado oficial, neste mês de outubro, a empresa disse que suspendeu por tempo indeterminado a extração de minério devido a um evento geotécnico e condições de mercado. “Depois de destruir a vida do povo e a natureza, a mineradora diz que precisa avaliar as condições de funcionamento da mina. Onde estão os órgãos responsáveis que deram as licenças desses empreendimentos?“, ressaltou a agente da CPT Marina Rocha. Após escutar os representantes das organizações populares, os integrantes da Comitiva do Governo da Bahia disseram que irão construir um relatório a partir da discussão de hoje, que será apresentado ao governador Jerônimo Rodrigues e que também servirá para subsidiar o direcionamento de políticas públicas.

Atingidos por mineração no norte baiano relatam danos sociambientais em reunião com Estado

  1. Estao destruindo o morro branco no lago, municipal de casa nova bahia! Vergonha!

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