Artigo do Leitor: “O que tem a ver a Catedral de Petrolina com o nascer do sol do dia 7 de outubro?”

por Carlos Britto // 06 de outubro de 2014 às 21:38

Catedral1Neste artigo, o padre Francisco José Pereira Cavalcante fala sobre a restauração da Igreja Catedral Nossa Senhora Rainha dos Anjos e pede atenção especial aos vitrais da Catedral que ilustram o templo, relatando histórias do Cristianismo. Há quase meio século, no dia 7 de outubro, aconteceu a ‘Batalha de Lepanto’, travada entre cristão e mouros. Um dos vitrais ilustra essa história.

Confiram:

No ano em que D. Manoel dos Reis de Farias, atual bispo de Petrolina, convocou a sua Igreja para viver um Ano Santo e a restaurar a Catedral Diocesana, convidamos os petrolinenses a olhar para um dos famosos vitrais do grande templo. Aquele que em uma obra que escrevemos sobre a Catedral chamamos de a “Batalha de Lepanto”. Este e os outros vitrais foram fabricados por uma empresa de Grenoble, na França. Um dos mais belos é o vitral gigante que decora o braço (transepto) esquerdo da grande cruz que é a Catedral, marca o centro de Petrolina. Ele ilustra com grandiosidade e dramaticidade o “Êxtase de S. Pio V”, no dia da famosa “Batalha de Lepanto”, travada entre cristãos e mouros em 7 de outubro de 1571, portanto há quase meio século.

No vitral vê-se entre os barcos em guerra, alguns em chamas, a figura da Mãe de Jesus segurando o Filho nos braços e o Papa – São Pio V (reinante entre 1504-1572) de joelhos, em oração. A obra de arte baseia-se em outras, presentes em templos europeus, e ilustra o momento do dia da batalha, em que o Papa interrompeu seus trabalhos, foi até uma janela, abriu-a e entrou em êxtase. Em seguida disse: “Agora não é hora de negócios, mas sim de dar graças a Jesus Cristo, pois nossa esquadra acaba de vencer”.

As dificuldades de comunicação da época confirmaram a visão do Papa, acerca da vitória, duas semanas após a vitória. Antes da batalha os soldados (81.000) da Liga Santa, assim como os condenados que remavam as barcas, jejuaram durante três dias, confessaram-se e comungaram. As naus foram benzidas e, aos chefes de cada uma, foi entregue uma relíquia da santa cruz. Na nau principal foi colocado o estandarte da Virgem de Guadalupe e outra, tendo o crucifixo ao centro e os Apóstolos Pedro e Paulo aos lados, desfraldada somente no momento final, quando foi confirmada a vitória. Esta levou o Papa a criar a festa de N. Senhora da Vitória, em seguida chamada de festa de N. Senhora do Rosário.

Mas por que razão D. Malan resolveu colocar um vitral lembrando o evento que esteve à origem de tal festa? D. Malan era um homem de muita fé no poder de Deus e confiava na intercessão dos santos, especialmente de N. Senhora Auxiliadora (Auxilium Cristianorum) e Santo Antônio. As primeiras pedras do templo foram levadas para o local após a oração do rosário. O título mariano Auxiliadora dos Cristãos é, também, muito caro aos filhos espirituais de D. Bosco, os Salesianos. Para construir uma igreja do gênero no alto sertão pernambucano, era necessário ter uma confiança inabalável no Salvador do mundo como “Coração de Jesus Cristo, Rei do Universo” e na intercessão de sua Mãe, o “Auxílio dos Cristãos”. Pensando bem, entenderemos que a construção da Catedral, numa cidadezinha de apenas três mil habitantes, situada em uma das regiões mais pobres e miseráveis do Brasil, foi apenas um dos grandes milagres acontecidos na vida de D. Malan.

Além do vitral, outro indício de que o bispo entregou os destinos da construção à intercessão de Maria, está no direcionamento do eixo, da espinha dorsal central do templo com o nascer do sol do dia da festa do Rosário. De fato, na manhã de cada dia sete de outubro as pessoas que celebram a missa na Catedral estão colocadas frente a frente com o sol nascente.

O costume de direcionar a cabeceira das igrejas com o nascer do sol no dia do padroeiro é muito antigo. Os cristãos o herdaram dos judeus, que construíam seus templos (a Tenda, o Templo de Salomão) de forma orientada para mostrar que Deus reina nos quatro cantos do mundo. Também o templo de Jerusalém, o último, tinha suas portas voltadas para o nascente, para o Monte das Oliveiras, onde jesus – o Novo Templo – se “hospedava” quando em Jerusalém e onde ele – como o sol da manhã – subiu aos céus após a ressureição (At 1,11,12). Além disso as sinagogas judaicas e os primeiros espaços cristãos eram orientadas para Jerusalém. Também as pessoas oravam voltadas para Jerusalém (Dn 6,11).

A oração orientada significa que o fiel ora com o ser inteiro, isto é, “com o espírito, a alma e o corpo” (1Tes 5,23), voltado para a terra onde nasceu Jesus, o Sol nascente – o anatolé – que nos veio visitar, “para brilhar sobre aqueles que estão vivendo nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1, 78s ). De fato nas Sagradas Escrituras, Jesus é chamado de “Sol da Justiça” (Ml 3,20), “a luz verdadeira” (Jo 1,9), “a luz do mundo” (Jo 12,46) e a “a brilhante Estrela da manhã” (Ap 22,16).

O vitral está localizado no braço Sul da cruz, que é a Catedral. É justamente o lado dedicado a N. Senhora, o lado onde está a Igreja Matriz de Santa Maria Rainha dos Anjos, com a qual a Catedral está alinhada transversalmente. Se a Catedral representa Cristo na cruz, a Matriz é a Mãe ao pé da cruz.

Para ajudar a ligar a Catedral com a Matriz, a figura de N. Senhora Auxiliadora, reproduzida no vitral, está rodeada de anjos. Nos braços dela o menino Jesus tem o coração misericordioso à mostra. Raios de luz envolvem a Mãe e o Filho, lembrando Maria como a Mulher Vestida de Sol do Apocalipse (Ap 12,1-12). O artista que criou o quadro liga a “Batalha de Lepanto” à grande batalha descrita no Apocalipse, na qual S. Miguel (o Anjo), padroeiro da Igreja, enfrenta o Dragão adverso. Os raios que atingem os adversários dos cristãos partem das mãos, não de Maria, mas do próprio Menino Jesus.

Concluindo: a Catedral de Petrolina é um hino ao Senhor, que por sua Mãe concedeu a Petrolina um templo que expressa, arquitetônica e esteticamente, o amor, o poder e a proteção de Deus sobre aqueles que nele confiam.

“O olhar do Senhor percorre toda a terra para ajudar os que estão com ele de coração sincero.” (2Cr16,9)

 Padre Francisco José Pereira Cavalcante/Diocese de Petrolina

Artigo do Leitor: “O que tem a ver a Catedral de Petrolina com o nascer do sol do dia 7 de outubro?”

  1. ionete cavalcante disse:

    A nossa Catedral tem como padroeiro;JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO.A nossa igreja matriz sim,é que tem como padroeira Nossa Senhora Rainha dos Anjos.
    Só a título de esclarecimento.

  2. mary ann disse:

    Uma aula de História e religião

  3. Osvaldo disse:

    1571 – 2014 , quase meio século ? Quase 500 anos, isso sim. Também me parece errado afirmar que “De fato, na manhã de cada dia sete de outubro as pessoas que celebram a missa na Catedral estão colocadas frente a frente com o sol nascente.” Pode ser que seja assim hoje, mas não era assim no momento da construção do templo porque antes do Concilio Vaticano II (1962 – 1965) o celebrante voltava as costas aos fiéis. Desde sempre a grandiosidade das contruções religiosas, em contraste com as condiçoes de vida do povo, se justificada com o louvor a Deus, nada era bom demais para a casa do Senhor, isso explica também a Catedral numa pequena cidade pobre.

    1. Religião escraviza. disse:

      O patrimônio que a Igreja Católica adquiriu em mais de 2000 mil anos é muito inferior aos que todas as Igrejas Evangélicas juntaram em 500 anos, que o diga Edi Macedo.

  4. Olavo disse:

    Coloca “há quase meio milênio” e resolve tudo. Muita gente só lê o inicio dos artigos e, com isso, pode ter uma noção equivocada sobre temporacidade do fato.
    No mais, bela matéria!!!
    Parabéns ao blog…

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Últimos Comentários

  1. Era tão articulado que foi eleito sem voto pelos militares. Não ganhou por mérito próprio, foi imposto.