Neste novo artigo para o Blog, o advogado Rivelino Liberalino faz uma reflexão profunda (e pertinente) sobre a amizade. Boa Leitura:
O tempo em que vivemos tem um gosto amargo de vazio. Nunca estivemos tão cercados de gente, e nunca fomos tão sozinhos. A cada dia, a multidão se avoluma, mas os laços se desfazem. Nos Estados Unidos, a estatística é brutal: quadruplicou o número de adultos que não têm sequer um amigo íntimo. São doze em cada cem caminhando pela vida sem ninguém para segurar-lhes a mão. E se antes muitos se orgulhavam de ter dez ou mais amigos próximos, agora esse grupo encolheu como um rio na estiagem. O mesmo se vê na Índia urbana, e também aqui, diante dos nossos olhos: sobram contatos, faltam corações.
Os lugares que já foram abrigo de encontros viraram vitrines de solidão. Cafés, bares, praças: cada qual sentado diante da tela, mergulhado em um mundo de pixels, enquanto o mundo real definha ao lado. A vida urbana se converteu em desfile de presenças ausentes. Até a refeição, que era partilha, virou ato solitário: nos últimos dois anos, comer sozinho cresceu quase trinta por cento na América. E o que antes se aprendia no convívio, agora precisa virar disciplina universitária — “Design para Amizades Saudáveis” —, como se amizade pudesse nascer de apostila.
O que está em curso não é apenas um problema social. É uma crise cultural, espiritual, quase uma doença da alma. A amizade, que já foi pão cotidiano, hoje virou sobremesa rara. Só acontece quando sobra tempo, quando o corpo não cede, quando a agenda permite. Perdemos os clubes, os cultos, as reuniões comunitárias, o gosto do voluntariado. O que era regra virou exceção. E, sem perceber, a solidão foi se instalando como hábito.
Mas a conta chega, e ela é alta. A ciência não deixa dúvidas: viver sem amigos adoece o coração e encurta a vida. O isolamento social é tão nocivo quanto fumar quinze cigarros por dia. Ele abre as portas para a depressão, para a demência, para a morte precoce. Em contrapartida, amizades sinceras são um remédio invisível: prolongam a vida, clareiam a mente, restauram o ânimo. O maior estudo já conduzido por Harvard, ao longo de oitenta anos, disse o que o coração sempre soube: a verdadeira felicidade não mora no dinheiro, nem na carreira, nem nos aplausos. Mora na qualidade dos vínculos humanos.
Nos leitos de morte, a confissão ecoa, simples e devastadora: “Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos”. É um lamento registrado em Os Cinco Maiores Arrependimentos dos Moribundos, de Bonnie Ware. E é um testamento que atravessa gerações. Porque, no fim, não há troféus que curem a ausência dos amigos, sem eles, a vida se esvazia de sentido.
O poeta Mirza Ghalib deixou um pedido que é também oração: “Ó Deus, concede-me a oportunidade de viver com meus amigos…pois posso estar contigo mesmo depois da morte”. Eis a essência da amizade: ensaio de eternidade, antídoto contra a morte em vida.
Mas estamos deixando morrer o que há de mais humano em nós. A pressa, a indiferença e a tirania das tarefas estão estrangulando o vínculo mais nobre de todos. Contra essa correnteza, só nos resta remar. Reaparecer, ligar, perdoar, reencontrar. Cada amigo que se perde é um pedaço de nós que também se vai.
E quando a estrada da vida chegar ao fim, não serão os títulos, os bens, nem os feitos que darão sentido à travessia. Será a lembrança dos ombros que nos acolheram, das gargalhadas repartidas nos dias banais, das mãos que seguramos quando faltava força. É ali que a vida floresce. Sem isso, restam apenas sombras.
Por isso, valorize seus amigos. Ligue. Abrace. Apareça. Antes que a ausência transforme cada um deles em saudade eterna. Faça isso hoje. Antes que seja tarde.
Rivelino Liberalino/Advogado



Edificante,profunda e de uma consistência filosófica ímpar. Parabéns meu grande irmāo! Te admiro e tenho muito orgulho de vc.Humilde,acolhedor e de uma inteligência infinita.
Eu amo esse rapaz, ele é o exemplo do cara qur a cidade grande nâo o corrompeu. Sem mais
Isso é a Nomofobia (Vício em Celular), as pessoas não se cumprimentam mais, na hora do almoço, de dormir é o celular ao lado, uma doença que precisa ser tratada. O maior “amigo” de alguns acéfalos hoje, é o “Celular”, o pior que é só bobagens que visualizam. Quando me aproximo de alguém com um celular na mão me afasto, por uma tremenda falta de educação , vou ficar falando só. Não querendo ser radical nem irônico, mas só falta agora, ao falecer um doente desses, levar o celular (amigo) no caixão.
Perfeito!
Perfeito
Reflexão perfeita! Obrigado por partilhar!
Rivelino além da inteligência ímpar, tem um coração e sensibilidade invejáveis.
Parabéns primo!
Ótima reflexão.
Sr. Carlos Brito tem um sábio conhecimento e esse Artigo deverá atingir o nosso globo pois, merece. Deus o ilumine cada vez mais.