Se fosse possível resumir a trajetória de Jorge Garziera em um único termo, seria, sem dúvida, pioneirismo. Contudo, a obstinação e a capacidade de se reinventar, dignas de uma Fênix, são igualmente essenciais para descrever este gaúcho de alma italiana. Ele não é apenas um enólogo e administrador, mas um verdadeiro desbravador que, ao completar 50 anos de jornada no Vale do São Francisco, reescreveu a história de uma região.
Nascido em Garibaldi (RS), berço da vitivinicultura nacional, Jorge cruzou o país e fincou raízes no Semiárido pernambucano, em uma época em que plantar uvas no Sertão parecia uma utopia. Seu amigo Roque Cagliari, a quem trouxe na sua primeira jornada, contou que receberam um conselho: “Não levem roupas quentes. Lá é quente demais”. Mas o carro quebrou ainda em uma cidade próxima e precisaram consertar em meio a um frio dilacerante. A quase hipotermia não foi capaz de detê-los, mas ficou a história para garantir as risadas.
A visão do “garotinho” não era apenas a de um empresário, mas a de um arquiteto de sonhos: ele foi peça-chave na implantação do primeiro vinhedo de uvas finas em Pernambuco, lançando as bases para o que hoje é o polo vitivinícola do Vale do São Francisco.
Jorge vislumbrou o potencial da terra e, sobretudo, a força do sertanejo. Ele acreditou que, onde a maioria via apenas o desafio da caatinga, era possível criar um terroir único no mundo — um feito reconhecido internacionalmente e que resultou na primeira Indicação Geográfica (IG) para vinhos tropicais do Brasil. Sua mais recente criação, o vinho Resiliente, é um tributo a essa capacidade de se levantar diante das quedas, de transformar o áspero em fértil.
Sua paixão se estendeu da viticultura para a vida pública, onde foi prefeito de Lagoa Grande por dois mandatos (1997-2004), consolidando a cidade como a “Capital da Uva e do Vinho do Nordeste”. Seja nos negócios, na política ou na vida, ele é movido pela paixão e pelo resultado. E seu mantra, “vamos fazer dar certo“, é o motor que inspira amigos e colaboradores.
Fora dos parreirais e dos negócios, ele construiu um legado pessoal. Do casamento com Rose, nasceu uma família de quatro filhas e netos que não escapam das lições sobre vinho e da tradição italiana que ele insiste em manter viva.
Mais do que celebrar um aniversário de chegada, celebra-se o homem que, com sua teimosia produtiva e seu espírito bonachão, plantou uvas finas, colheu progresso e fez do Vale do São Francisco a nova fronteira dos vinhos no Brasil. Ele se realizou como homem, cidadão e pai, plantando raízes em uma terra que o acolheu e o fez com uma verdade inegável: onde há paixão e propósito, o sucesso é apenas o resultado.



Não o conheço, mas pela descrição do texto o homem é admirável. Palmas a ele.