Em mais um artigo enviado ao Blog, o leitor Rivelino Liberalino vê o mundo atual como um “grande labirinto” mental, erguido pela desinformação e manipulação. Confiram:
A maior prisão para o ser humano não é feita de muros, mas de ignorância.
Na mitologia grega, o Minotauro era metade homem e metade touro — um ser humano com corpo estruturado, mas governado por uma cabeça bestial. Foi aprisionado em um labirinto engenhoso, não de grades, mas de caminhos tortuosos.
Assim vivem hoje muitos: criaturas humanas dotadas de luz, mas confinadas em labirintos mentais erguidos pela desinformação proposital, pela manipulação meticulosa e pela ignorância cultivada como instrumento de domínio.
A ignorância, hoje, não é mera ausência de saber. É rendição à sombra quando a luz está ao alcance. É recusa sutil, quase voluntária, de pensar por conta própria. Kant dizia: “Sapere aude” (ouse saber).
Mas parte da sociedade prefere viver como minotauros: instintiva, vulnerável, domesticada por narrativas artificiais.
Enquanto isso, as grandes vozes globais — os novos oráculos — discursam sobre causas “verdes” e humanitárias, enquanto agem em dissonância gritante.
Bill Gates, por exemplo, chega aos fóruns internacionais no automóvel mais poluente já fabricado, enquanto seus jatos despejam carbono aos céus.
Fala em energia limpa, pede que andemos a pé, mas jamais abre mão dos privilégios que condena.
A engenharia social não se faz apenas por decretos, mas por narrativas cuidadosamente coreografadas.
É nesse caldo que se tenta importar para o Brasil o discurso de “racismo estrutural”, como se aqui o enredo fosse idêntico ao dos Estados Unidos.
A história, contudo, conta outra versão — mais rica, mais complexa e profundamente mestiça.
Quase cem anos antes de Barack Obama, o Brasil já tivera um presidente negro: Nilo Peçanha.
O “Rei do Futebol” é Pelé, reverenciado no mundo inteiro.
O “Rei” da música popular é Roberto Carlos, mestiço.
O patrono de nossa literatura é Machado de Assis, negro. Em qualquer auditório deste país, o olhar atento verá uma plateia mesclada, cores lado a lado, sonhos compartilhados.
A mestiçagem é a prova viva de que não há uma estrutura racista que sustente a sociedade brasileira.
Existem, sim, indivíduos racistas — assim como há criminosos, estupradores, dementes.
Mas não um sistema articulado que oprime uma cor específica.
Quem conhece o sertão sabe: no Seridó, por exemplo, no Nordeste profundo, há pessoas loiras sem ter o que comer.
A miséria é democrática.
A desigualdade brasileira é social, não racial.
Falo com a alma de quem nunca viu cor em ninguém.
Fui criado aqui mesmo, em Petrolina, na Rua Doutor João Pessoa, cercado por amigos negros — na sua imensa maioria, cerca de 90% — com quem passei a infância brincando de gude, de pião, de futebol nas travinhas da rua, e mergulhando nas águas generosas do Velho Chico, onde a imaginação era a maior das riquezas.
Não frequentei Iate Clube; minha infância foi de rua — de sol, de riso e de convivência verdadeira.
Costumava brincar jocosamente, ainda na adolescência, que eu era “sócio do Grande Rio”.
Alguns, desavisados, perguntavam se era do Grande Hotel, e eu, rindo, respondia: “Não, do São Francisco”.
E todos caíam na gargalhada.
Essas memórias não são simples lembranças.
São provas vivas de um tempo em que as cores se misturavam sem barreiras ideológicas impostas, em que a convivência era natural, espontânea e profundamente igualitária.
Um tempo em que as diferenças existiam apenas nos tons da pele ao sol, nunca nas relações entre as pessoas.
Quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, libertou corpos.
Mas ideologias, partidos e narrativas voltaram a aprisionar mentes.
Substituíram grilhões de ferro por correntes ideológicas : “Você é vítima para sempre”, “Você é credor eterno da sociedade”.
A nova senzala não tem paredes: tem discursos.
É hora de romper esses labirintos.
De enxergar que a luta real não é entre raças, mas entre consciência e manipulação.
O verdadeiro perigo é a ignorância estrutural — essa, sim, silenciosa, eficiente, cultivada com esmero.
Não existe racismo estrutural no Brasil.
Existe, sim, ignorância estrutural.
E essa é a prisão mais bem construída da história.
Rivelino Liberalino/Advogado



Poderia passar desapercebido o racismo estrutural se o autor não mencionasse “passei a infância brincando com negros”.
Isso jamais seria dito por alguém com mais melanina na cor da pele. “Passei a infância brincando com brancos”. Esse Liberalino ….. Texto mais besta nunca vi.
Dr. Rivelino e seus comentários de lucidez perfeita, apurada, consciente. Oxalá continue assim, e inspire outros a deixarem as correntes da ignorância. Abraços fraternos!
Parabéns Rivelino!
Muita inteligência no seu discurso.
Belíssimo artigo. Mas ouso dissertar do nobre articulista. As correções históricas estão em andamento desde o primeiro governo do Presidente Lula. O fato de haver passado a infância em companhia de negros, brincando de bola de gude e outros brinquedos não é indicativo de que as diferenças foram superadas. Desde a senzala havia essa simbiose, apesar disso, em algumas cidades, em tempos não muito distantes, ainda existiam clubes segragacionistas. A ignorância estrutural, com certeza somente será superadas com a oferta de escolas de qualidade, com a continuidade da universalização do conhecimento, para isso, também o menino negro de caetes, deu e vem dando sua contribuição.