Artigo do leitor: “Fundo partidário, miséria e teatro político – O Brasil precisa acordar”

por Carlos Britto // 07 de outubro de 2025 às 20:42

Foto: Beto Barata/Agência Senado

Em mais um artigo enviado ao Blog, o leitor Rivelino Liberalino chama atenção para o distanciamento entre a classe política e o papel que deveria exercer na sociedade, sobretudo para os menos favorecidos. Confiram:

Há um fundo partidário de quase cinco bilhões de reais reservado para financiar eleições. Cinco bilhões – não para hospitais, não para escolas, não para segurança pública. Cinco bilhões para irrigar campanhas, alimentar partidos, sustentar estruturas de poder que, salvo honrosas exceções, não representam o povo, mas a si mesmas. Enquanto esse dinheiro corre solto pelos corredores do Congresso, pessoas morrem nas filas de hospitais, mães imploram por atendimento, crianças têm pesquisas interrompidas, comunidades vivem sob o terror de facções que expulsam famílias de suas próprias casas. Empresas de fachada ligadas ao crime organizado florescem com naturalidade obscena. E o povo…o povo assiste.

Um político que desvia recursos da saúde não rouba dinheiro – rouba vidas. Nega o remédio que salvaria, a cirurgia que curaria, o exame que diagnosticaria. Planta covas rasas, funerais silenciosos, lágrimas anônimas. Quem desvia da educação assassina o futuro. Condena crianças a um destino de ignorância, perpetua a violência, destrói gerações. Esses crimes não aparecem nas manchetes policiais, mas são eles que mais matam – matam com caneta, com omissão, com indiferença. E a pergunta, dolorosa e necessária, precisa ecoar: a quem interessa manter o povo submisso, carente, ignorante? Que perversão é essa que transforma sofrimento humano em estratégia eleitoral?

Independente de partidos ou bandeiras, vivemos reféns de um grande teatro macabro, encenado no coração da política brasileira. A cada dois anos, o palco se ergue: luzes, discursos decorados, bandeirolas tremulantes, promessas recicladas. Adversários de ontem viram aliados de hoje. O enredo muda, os atores também, mas o papel do povo continua o mesmo: plateia anestesiada.

Por décadas, repetem-se os mesmos discursos, as mesmas frases paternalistas – “três refeições por dia para o pobre” – como se a dignidade humana coubesse em um prato de comida. E quando esse mesmo pobre ousa sonhar com algo além, empurram-no para apostas, vícios e esmolas travestidas de políticas públicas. O pobre, meus irmãos, é o combustível desse teatro, o manequim sobre o qual se vestem trajes eleitorais. Não é visto como cidadão, mas como ferramenta de poder.

Olhem ao redor. A dança das máscaras é clara: inimigos ferrenhos ontem, parceiros cordiais hoje. Não é ideologia. É estratégia. É cálculo. A pobreza foi convertida em moeda de troca, em instrumento de manipulação, em palco de uma encenação que se repete, cinicamente, a cada dois anos, enquanto a plateia aplaude de olhos vendados.

E não é só no campo político que as incoerências se revelam. Uma deputada trans levanta bandeiras da negritude e da pobreza, mas seu estilo de vida a distancia da realidade que diz representar. Um influenciador digital prega comunismo, mas brilha nas vitrines americanas. Um compositor negro, radicado em Los Angeles, batiza o filho de Samba como gesto simbólico de preservação cultural, ao mesmo tempo em que desfruta do conforto californiano. Esses exemplos não são ataques pessoais: são retratos de um país onde discurso e prática raramente se encontram, onde a retórica se traveste de virtude para ocultar conveniências.

Mas o espetáculo mais vergonhoso não está no palco: está na plateia. Está em nós. Está no povo que aceita o político que entra em sua casa humilde, toma um café, sorri com dentes bem escovados e desaparece. E ainda assim é chamado de “gente boa”. Está em cada voto trocado por um favor, por um saco de cimento, por um emprego improvisado. Está em cada consciência vendida por migalhas. Está em cada silêncio cúmplice. Quando fazemos isso, nos tornamos coautores da tragédia. Não vítimas – cúmplices. Cúmplices da corrupção que mata, da ignorância que escraviza, da miséria que perpetua.

Este texto não tem lado. Não é bandeira. É um grito, um soco na mesa, um pedido desesperado para que o povo acorde, para que rasgue as vendas, para que reconheça o espetáculo e finalmente levante da arquibancada. O Brasil está adoecido — não só nas estruturas do Estado, mas na alma. O caso das bebidas falsificadas que mataram pessoas, os cafés “batizados” denunciados pela polícia, padres usando o púlpito para clamar contra a anistia — tudo isso revela uma nação que falhou moralmente antes mesmo de falhar institucionalmente.

Falimos como Estado. Falimos como sociedade. E, pouco a pouco, estamos falindo como seres humanos.

O Brasil não precisa de líderes ungidos por conveniência ou de heróis fabricados pelo marketing político. Precisa de um povo desperto, corajoso, exigente, intolerante com a corrupção, intransigente com a mentira. Enquanto aceitarmos o papel de figurantes, os atores continuarão os mesmos, trocando apenas de figurino e de slogan. O teatro só acaba quando a plateia se levanta. Acorda, Brasil. A história não muda com palmas. Muda com coragem.

Rivelino Liberalino/Advogado

Artigo do leitor: “Fundo partidário, miséria e teatro político – O Brasil precisa acordar”

  1. Sempre alerta disse:

    Povo não sei as ruas pra protestar contra isso, saíram as ruas por causa de 20 centavos, sae as ruas pra pedir anistia a um velho milionário, mas não saem pra protestar contra o roubo do INSS .

  2. Edilberto disse:

    Concordo plenamente com a narrativa acima, é o retrato fiel da realidade do Brasil de hoje. E digo mais, o ex presidiário presidente, anda afirmando com convicção absoluta, que vai ser “Reeleito”, e vai mesmo, podem gravar o que estou dizendo. Em 2022 assisti debates na Globo lixo, onde o rato presidente debochava, quando Bolsonaro citava a roubalheira praticada por ele, dava risadas, estava convicto da eleição dele. As urnas eletrônicas são passivas de fraudes sim, não existe nenhum dispositivo informático que seja 100% seguro, já foi invadido o site do TSE, Nasa, Dataprev, Stf e outros sites ditos seguros. A urna até certo ponto é segura, não são confiáveis (políticos) que as manipulam, com apenas 6 linhas do código fonte é possível frauda-la, não é invasão e sim acesso ao algoritmo, digo isso com conhecimento de causa. Por isso não querem voto impresso, se torna impossível a fraude, fica a prova do crime. Hitler depenava galinhas e em seguida jogava migalhas de comida pra elas, faziam filas pra segui-lo”. É o que está acontecendo no Brasil de hoje com BCP Loas, gás, energia grátis e outras esmolas, que compram o “voto” dos menos favorecidos e, menos instruídos, que muitos usam para compra de drogas e bebidas. Taxam empresários que é a fonte de riquezas e empregos no pais, produzem riquezas, eles estão se afastando do pais, quero ver quem vai pagar a conta do clientelismo, é uma bola de neve. Não se enganem com a imprensa suja, jornalista da globo lixo ganha 4 milhões/mês pra dizer o que os patrocinadores “mandam”, não a realidade dos fatos. Presidente e ministros que fazem parte do alto escalão do poder com fichas sujas e, outros que estão voltando, Zé Dirceu, Aécio, Sérgio Cabral… A cada dia estoura casos de fraudes no pais, virou uma prática corriqueira. A cúpula COMUNISTA no poder humilha alto escalão das forças armadas, doutrinam ignorantes, alienados e idolatras egoístas a segui-los, só com a consciência, bom senso, a razão do eleitor, podemos mudar o cenário sujo do Brasil de hoje.

  3. Zezim da Jega Amojada disse:

    O que houve? Em outros textos o autor não demonstrou preocupação com os menos favorecidos. Ao contrário, demonstrava pensamento elitista e supremacista. É o velho e conhecido “morde e assopra”.

  4. Antônio Marreco disse:

    O fundo partidário é que está alimentando salário de bolsonaro, que recebe como ex-presidente, ex-militar, ex-deputado e agora como empregado do PL. Não somente ele, a micheque também é remunerada pelo fundo partidário do PL, ou seja, ambos são pagos por Valdemar Costa Neto, aquele mesmo do mensalão e da lava jato. O artigo se propusera
    a falar sobre fundo partidário e desandou a falar de outros assuntos, esquecendo que esse fundo partidário foi criado pela ala conservadora do congresso, com objetivo de equilibrar as forças em disputas eleitorais.

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