Neste novo artigo para o Blog, o advogado Rivelino Liberalino chama atenção para a realidade de mães de crianças com necessidades especiais em Petrolina, que enfrentam falta de inclusão, apoio e acessibilidade. Ele alerta para o sofrimento silencioso dessas famílias e questiona a prioridade da cidade em espetáculos e obras, em vez de empatia e acolhimento, defendendo que Petrolina também deve ser referência em cuidado e atenção às famílias mais vulneráveis. Boa Leitura:
Existem títulos que a vida nos oferece: graduação, mestrado, doutorado. Todos têm valor, mas nenhum se compara a um título pequeno e ao mesmo tempo imenso: mãe. Palavra curta, mas que carrega dentro de si a eternidade. Ser mãe é amar desde o ventre, é nutrir, é vigiar o sono, é formar um ser humano. É participar do mistério do Criador, experimentando em si um pouco do Seu amor pela humanidade. Mas essa palavra, tão sublime, tantas vezes vem acompanhada de cruzes pesadas. A cruz da incompreensão, da exclusão, da solidão. Assim vivem milhares de mães de filhos autistas e de crianças com necessidades especiais. Mães que, todos os dias, enfrentam um sistema de saúde insuficiente, escolas despreparadas e custos insuportáveis.
A terapia-ABA, essencial para o desenvolvimento de tantos, tornou-se um luxo inalcançável para a maioria. Este artigo não nasce de abstrações. Ele nasce de depoimentos de muitas mães, de histórias reais, de lágrimas que escutei e que me marcaram profundamente. Posso, inclusive, conduzir nossos representantes até essas mulheres, para que escutem diretamente delas o que eu escutei, para que sintam como eu senti e chorem como eu chorei. Porque diante delas percebi minha pequenez — e, mais ainda, a pequenez de uma sociedade que ainda não alcançou o patamar de verdadeiramente humana. Vivemos numa sociedade da pressa, da dopamina, do espetáculo. Uma sociedade que ergue palcos, luzes e fogos, mas que fecha os olhos ao choro silencioso de uma mãe que não sabe como pagar a próxima sessão do filho.
Não basta ser referência em festas. Não basta ser referência em obras de pavimentação, em praças, em concreto e cimento. É preciso ser referência em humanidade. E aqui, com dor, afirmo o que quase ninguém tem coragem de dizer: no auge do desespero, há mães que, sem enxergar saída, tiram a vida dos filhos e depois a própria. Tragédias abafadas, silenciadas, que não viram manchetes, mas que são reais. O desespero bateu à porta e não encontrou socorro. Que sociedade somos nós, se deixarmos que mães continuem sendo empurradas a um abismo tão cruel? Petrolina, nossa Petrolinda, abençoada pelas águas do Velho Chico, já foi chamada de terra dos impossíveis. Uma cidade que ousou transformar sertão em oásis, que fez nascer vida em meio à aridez, que se tornou referência nacional pela coragem de realizar.
Se conseguimos irrigar desertos, por que não irrigamos corações? Se fomos capazes de construir pontes de pedra e ferro, por que não construímos pontes de empatia e compaixão? De que valem ruas bem pavimentadas se não abrimos caminhos para a inclusão? De que servem praças iluminadas se mães choram escondidas no escuro de seus quartos? De que adianta a grandiosidade dos espetáculos se falta a grandeza de enxugar uma lágrima? As crianças com Síndrome de Down, que são a personificação do amor.
Os autistas, que travam uma luta diária por dignidade. Os que vivem com TDAH ou outras condições, que desafiam preconceitos e rótulos. Eles nos revelam que os verdadeiros deficientes somos nós, que não sabemos oferecer afeto, acolhimento e oportunidade. Chegou a hora de gritar, de romper o silêncio, de acordar consciências. Petrolina não pode continuar sendo apenas palco de festas e vitrine de obras de pedra e cimento. Precisa ser maior, precisa ser grande naquilo que realmente importa: acolher, incluir, amar. Aqui é a terra dos impossíveis, a cidade de homens e mulheres que ousam sonhar e realizar. E a nós, cidadãos e gestores, cabe a mesma missão: escrever juntos a página mais nobre de nossa história, a página da dignidade humana.
Que os nossos representantes, que já disputam entre si para fazer mais e melhor, agora disputem para que Petrolina seja exemplo de empatia, cuidado e inclusão. Que este grito não se perca no vento. Que incomode positivamente, que inspire ações, que toque cada gabinete e cada coração. Porque uma cidade só será verdadeiramente linda quando nenhuma mãe mais tiver que escolher entre o desespero e a esperança. Quando nenhuma lágrima de dor for abafada, mas transformada em lágrima de gratidão.
Rivelino Liberalino/Advogado



Parabéns, amigo.
Parabéns primo pelo artigo!
Agente sofre muito mesmo não termos terapia
Termos que paga pra poder termos atendimento terapeuta porque no Sus muita dificuldade.
Precisamos muito de terapia e mais visibilidade em com nossos filhos
Minha queixa muitas clínicas não tem empatia au próximo criança nível 3 de suporte tem tá fila prioridade tem o direito prioridade essa clínica não placas não aceita criança autista gente aqui petrolina são muito descarso com pessoas deficiêncinte
Certamente as mães das crianças atípicas, como qualquer outra, querem e precisam de seus filhos bem. Políticas públicas para essas crianças são ainda precárias, em todas as esferas dos governos, e na nossa Petrolina é precária quando o assunto é saúde. Vejo tantos investimentos em estruturas, obras, requalificações, São João e demais festas e outras coisas que se pode ver. Mas saúde é intangível, porém necessária. Menos postagens e mais ações concretas, é o que precisamos, não só para os autistas. Meu amigo além de falar bem, escreve e pensa reto. Obrigado por mais um artigo.