Em mais um artigo enviado ao Blog, o advogado Rivelino Liberalino faz uma análise sutil, mas contundente, dos tempos de hoje. Confiram:

Houve um tempo em que universidades, lares e instituições eram fortalezas vivas, erguidas sobre três pilares que ninguém ousava negociar: a liberdade de pensar, a responsabilidade de agir e o respeito que dá dignidade à convivência. Um tempo em que buscar a verdade – ainda que ferisse, ainda que incomodasse – era sinal de honra, não de risco.

Hoje, parte dessas fortalezas ruiu. E no lugar das pedras ergueu-se um credo que fala macio, veste-se de inclusão e justiça social, mas carrega na alma o veneno que endurece corações e encolhe consciências: o wokeísmo.

Não é um movimento solto no vento. É fruto calculado de uma união impura: o niilismo pós-moderno, que nega qualquer verdade sólida, com o velho marxismo cultural, que transforma a vida num duelo eterno entre opressor e oprimido. Nesse cenário, a verdade é jogada ao chão e pisoteada; o caráter cede lugar à encenação. O diálogo – aquele exercício que ergueu civilizações – é substituído pelo linchamento público. E o pensamento livre, tratado como crime, é punido sem julgamento.

Para manter o controle, essa ideologia aperfeiçoou uma arma silenciosa e covarde: a cultura do cancelamento. Não importa o argumento, importa calar. Quem discorda é isolado, quem resiste é destruído. O medo de perder a reputação tornou-se coleira, e muita gente prefere a mordaça ao enfrentamento.

E há mais. Movimentos legítimos e nobres — o movimento negro, o feminista e tantas outras causas que nasceram de lutas justas — foram capturados e remodelados para servir de escudo e lança dessa máquina de poder. Não para unir, mas para dividir. Não para curar feridas históricas, mas para mantê-las abertas e inflamadas, criando exércitos de ressentimento à disposição de quem dita a narrativa.

Essa engrenagem não para na política. Ela entra nas empresas, infiltra-se nas artes, nos sindicatos, nas conversas de família. Corrói a confiança entre amigos. Enfraquece lares. E, de forma quase invisível, mexe no alicerce mais resistente contra qualquer tirania: a família.

O alvo é claro: o homem no seu papel de pilar e a mulher na sua grandeza natural.

Homens são domesticados para não proteger, para não prover, para não se responsabilizar nem por si, nem pelos seus. Mulheres são ensinadas a se envergonhar da feminilidade e a enxergar no homem um adversário, não um aliado. Assim, a aliança que sustentou gerações – a complementaridade entre o que protege e o que nutre – é quebrada.

E o que sobra? Famílias frágeis. Sociedades desorientadas. E um vazio que, inevitavelmente, será ocupado por um Estado que se oferece como pai, conselheiro e dono. É a fórmula perfeita para qualquer poder autoritário: um povo órfão, com medo, mas obediente.

Não se engane, meu irmão: isto não é acaso. É método. Um método que sabe que, destruindo a autoridade moral do homem e a força silenciosa da mulher, a estrutura toda desaba. E, com ela, caem liberdade, identidade e futuro.

Seguir calado é cooperar com a ruína.

A hora exige mais que coragem: exige lucidez. A verdadeira justiça social não floresce em slogans raivosos nem em dogmas de gabinete. Ela nasce da responsabilidade assumida, da honestidade de reconhecer a verdade e da disposição de conviver com quem pensa diferente.

O tempo não é amanhã. É agora.

Recuse a anestesia do vitimismo.

Enfrente a farsa da inclusão que exclui.

Desmonte a máquina do cancelamento que cala para dominar.

E restaure, com nobreza e firmeza, aquilo que nos fez resistir por séculos: a liberdade, o caráter e a convivência que constrói.

Porque, se nada fizermos, restará apenas um povo órfão, ajoelhado diante de uma tirania moral que se alimenta do medo e destrói, um a um, os alicerces que nos tornam verdadeiramente humanos.

Rivelino Liberalino/Advogado