Neste artigo, o advogado Rivelino Liberalino compartilha uma experiência transformadora vivida em Santa Cruz da Venerada, no Sertão pernambucano. Em meio ao cansaço diante da crise moral e política do país, ele relata como reencontrou a esperança através da fé simples e profunda do povo, da partilha entre romeiros, e de um momento de louvor conduzido por Frei Gilson que o tocou profundamente. Ao visitar a cidade pela primeira vez, o autor reflete sobre espiritualidade, humildade, e a importância de viver com propósito.
Confiram:
Na ânsia de escapar, ainda que por um instante, do caos político e moral que corrói as entranhas do nosso país, permiti-me uma pausa. Uma trégua. E nessa pausa, aceitei o convite da minha esposa para acompanhá-la num momento de louvor, sem grandes expectativas. Mal sabia eu que aquele dia marcaria minha alma.
Santa Cruz da Venerada. Um nome que, até então, apenas me chegava aos ouvidos por relatos esparsos — histórias das romarias conduzidas por Frei Paulo, o carmelita. Mas pisar naquele solo foi como atravessar o véu que separa o ordinário do sagrado. Encontrei uma cidade pulsante de fé, alimentada por uma espiritualidade viva, simples e profunda. Ali, onde tantos vão em busca de alento, eu também encontrei o que não sabia que havia perdido: a esperança.
Fui tomado por um silêncio interior raro nos tempos de hoje. Longe dos ruídos das redes, dos julgamentos apressados, das manchetes distorcidas. Deitei minha alma aos pés da Santa Cruz e deixei que ela me abraçasse. Não há algoritmo que capture a paz que desceu sobre mim naquele instante. Era como se, finalmente, tudo fizesse sentido.
A simplicidade do povo, a partilha do pão com os irmãos romeiros, os olhares cheios de compaixão, me devolveram a fé no ser humano. Um povo que pouco tem, mas muito oferece. Que não nega o suor, mas distribui o afeto. Ali compreendi que o Brasil real não está nos palanques nem nas disputas vorazes por poder — está nos gestos silenciosos dos que ainda sabem amar.
Visitei a casa dos romeiros, erguida por Dom Paulo com as mãos e a fé de um povo que acredita. Também vi algo que me arrebatou: o túmulo do próprio Dom Paulo, já construído, mesmo estando ele vivo. Que grandeza espiritual! Um homem que sabe que a morte é parte da vida, que não se assusta com o fim porque viveu o Evangelho com tal inteireza, que não precisa mais provar nada. Ali está, silenciosamente, dizendo ao mundo: “A vida é uma passagem. Façamos dela um altar de entrega e missão.”
E para coroar aquele dia sagrado, Frei Gilson — com sua fé desarmada e seu dom de tocar corações — conduziu quase 10 mil pessoas num louvor que arrebatou os céus. Louvar é rezar duas vezes, disse Santo Agostinho. E ali, cada nota era um grito de alma, cada canto era oração. Eu chorei. De alívio. De gratidão. De saudade de mim mesmo. Porque, entre milhares de vozes, reencontrei a minha.
Santa Cruz da Venerada me ensinou que ainda há lugares onde a fé é maior que a dor, onde o amor vence a indiferença, onde a esperança é real.
Talvez o que falte ao nosso povo não seja discurso nem revolução — mas uma volta ao essencial. Ao altar da simplicidade. Ao gesto da partilha. À coragem de reconhecer que a vida é breve, e que viver com propósito é o único legado que vale.
Não se levam títulos, cargos, seguidores ou posses. Leva-se o bem que se fez. A paz que se plantou. A fé que se viveu.
Rivelino Liberalino



Texto muito rico , reflexivo e profundo conhecimento da realidade expressa pelo autor. Parabéns! Lindo relato da Santa Cruz da Venerada. Para o escritor Rivelino Liberalino-APLAUSOS!
Belo testemunho de Fé.
Lindo testemunho de fé.👏🙏
Precisamos cultivar a fé, pois ela é uma força mágica que nos levanta de cada queda.