Vale em risco: Exportações Agrícolas sob ameaça de tarifas americanas

por Carlos Britto // 15 de julho de 2025 às 10:31

O agronegócio brasileiro, pilar da economia nacional, encontra-se à beira de uma crise sem precedentes, com especial vulnerabilidade no setor de fruticultura. A imposição iminente de tarifas de 50% sobre produtos agrícolas brasileiros, incluindo frutas, pelos Estados Unidos — medida que, segundo projeções do setor, pode entrar em vigor já em agosto — representa uma ameaça existencial. Tal cenário poderá precipitar um colapso econômico que colocaria em risco aproximadamente 200 mil empregos diretos e indiretos na fruticultura do Nordeste brasileiro.

O coração da produção frutícola do país, o Vale do São Francisco, clama por atenção. Silvio Medeiros, empresário da Agrobras, não hesitou em expressar a gravidade da situação: “a fruta vai virar lama”. A região, vital para as exportações, destina cerca de 80% de sua produção de uva e manga ao mercado norte-americano. Para Medeiros, a efetivação dessa taxação não é apenas um obstáculo, mas um “bloqueio de mercado” que inviabiliza toda a cadeia exportadora.

Abrafrutas: Um “Golpe Duro” na Economia Regional

A Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) classificou a potencial tarifa como um “golpe duro”, evidenciando o profundo impacto esperado. A entidade reitera o interesse do setor em manter e expandir sua presença no mercado dos EUA, que em 2024 gerou um volume de negócios de US$ 148 milhões para as frutas brasileiras. Somente as exportações de manga, por exemplo, alcançaram 258,3 mil toneladas, com 36,8 mil toneladas tendo os Estados Unidos como destino principal.

Os exportadores estão apreensivos não apenas com a retração nas vendas, mas também com o possível comprometimento de contratos já firmados, gerando um efeito dominó de dificuldades financeiras. A logística, já complexa devido à alta perecibilidade das frutas, intensifica o desafio; um navio partindo no próximo sábado, por exemplo, talvez não consiga descarregar sua carga antes que as novas tarifas entrem em vigor.

Paulo Dantas, diretor-presidente da Agrodan, um dos maiores nomes na produção de manga do Brasil, projeta que o impacto se estenderá mesmo aos mercados europeus. Ele alerta que, com o fechamento do mercado norte-americano, o volume excedente de frutas seria inevitavelmente redirecionado ao mercado interno, cuja capacidade de absorção é sabidamente limitada.

Impacto Ampliado e o Apelo Urgente por Solução Diplomática

A preocupação com as tarifas transborda para outros segmentos do agronegócio exportador brasileiro, incluindo carne bovina, suco de laranja e café. Robson Gonçalves, renomado professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), enfatiza que tarifas sobre o café — uma commodity que os EUA não produzem — configurariam um cenário de “jogo de perde-perde” para ambas as nações. O Brasil, responsável por aproximadamente um terço das importações norte-americanas de café, representa um volume quase insubstituível a curto prazo.

Diante da severidade da ameaça, o clamor do setor é uníssono por uma resposta diplomática imediata por parte do governo brasileiro. Paulo Dantas sublinha a importância de buscar acordos que promovam benefícios mútuos, evitando qualquer escalada de confronto comercial que possa aprofundar os prejuízos à já fragilizada economia nacional.

A crise na fruticultura, sobretudo no Vale do São Francisco, é um alerta para a vulnerabilidade das exportações brasileiras diante de movimentos protecionistas. Que estratégias o governo federal pode adotar para proteger seus produtores e garantir a competitividade do Brasil no comércio global?

Vale em risco: Exportações Agrícolas sob ameaça de tarifas americanas

  1. Sempre alerta disse:

    Enquanto isso aquela familicia comemora e pede mais sancoes para o brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Últimos Comentários

  1. São frequentas as notícias sobre tombamento de caminhão com frutas, principalmente as mangas, imagino que seja por dois motivos:Carregamento incorreto…