A dura realidade da saúde pública

por Carlos Britto // 19 de abril de 2010 às 10:18

médico

Se isso serve de consolo para quem depende da saúde pública na região, o programa dominical Fantástico, da Rede Globo, fez uma blitz em hospitais de sete estados brasileiros para conferir se os médicos estão cumprindo os plantões, sobretudo depois da vigência do novo Código de Ética dos profissionais.

E o resultado (apesar de não ser nenhuma surpresa) foi desastroso. Confiram as situações encontradas pela equipe do Fantástico:

Está faltando médico para caramba, não tem médico quase nenhum atendendo”.
“Cheguei às 6h15 e obtive a informação que nenhum médico está presente”.

A lei diz que tem que ter um médico de plantão. “Tem, mas aqui não acontece isso, é praxe você chegar e não ter médico. O médico ou você tem que ir buscar ele em casa ou ele passa a medicação por telefone”.Na semana em que o novo código de ética médica entrou em vigor, repórteres do Fantástico percorreram hospitais em sete estados do Brasil. A ausência de médico no plantão passou a ser considerada falta grave. Não apenas do médico, mas também do diretor técnico, o gestor do hospital, que não providencia a substituição. Foram encontrados muitos pacientes esgotados pela peregrinação em busca de atendimento. Muitas vezes o que mais se ouvia era: “Não, não tem médico”.

“Não tem pediatra. Todo dia é assim, toda vez”.

 

“Não tem ortopedista. Dizem que amanhã tem. Aqui é emergência”.

Os repórteres passaram por 33 hospitais espalhados pelo país. De cada três, um não tinha o quadro completo no plantão. Na Região dos Lagos, no estado do Rio de Janeiro, isso aconteceu em quatro dos sete hospitais visitados.

“Aqui só clínico. Ortopedista só de sobreaviso, atende chamada só”.

O diretor de um dos hospitais reconhece a falta de médicos. Mas considera boas as exigências do novo código de ética médica.

“Na medida em que houver uma cobrança real, como se está vislumbrando, a gente vai começar a separar o bom do mau profissional. Porque eu posso ser punido, mas com certeza esse profissional também será punido”, diz o diretor do hospital municipal de Saquarema Marcos Oliveira.

Em Brasilândia, interior de Minas Gerais, uma senhora reclama que o pai, internado, recebeu prescrição de medicamento por telefone, o que é proibido no novo código: “Sem examinar. Um erro de diagnóstico assim é 90% de chance de ocorrer”, destaca.

Não havia um único médico no hospital. O secretário de Saúde, Odilon Martins, culpa o acaso: “Eu tinha contratado outro médico e ele me ligou hoje pela manhã dizendo que o pai dele estava internado na UTI e que não pode vir. Por esse transtorno aconteceu aqui hoje. Aconteceu hoje do outro médico já ter outro compromisso e ele ter que se ausentar, por algum momento, que ele tem o problema dele particular também e ele por essa razão talvez não esteja aqui ainda”.

Nenhum médico no hospital do bairro mais populoso de Teresina. “Estou indo embora porque não tem pediatra”.

Ainda há muitos médicos faltando e a questão do plantão é crônica. “É inaceitável um médico faltar ao plantão por irresponsabilidade. Os maus médicos nós vamos investigar e vamos punir. Mas não é a grande maioria. A grande maioria está trabalhando, está salvando vidas, está fazendo seu trabalho e está dignificando a profissão. Tem que olhar bem, muitas vezes é uma questão administrativa. Os gestores não estão pagando ou estão contratando cooperativas terceirizadas, estão demitindo, os médicos estão pedindo demissão porque não suportam mais ficar trabalhando em condições inadequadas”, declarou o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto D’Avila.
Em vários hospitais, os médicos estavam lá. Mas o atendimento…

Na madrugada fria de Porto Alegre, um desafio ao conceito de emergência: “Nós estamos aqui desde 19h. A moça falou que eles vão ser atendidos amanhã bem cedo. Amanhã de manhã”.

Acho que faz mais de 30 horas que estou aqui. Eles dizem que o prazo máximo é de 48 horas para ser atendido, né?”

O hospital confirma: “Está demorando de 6 a 48 horas. Tem muita gente internada nos corredores, demora o atendimento. Não é por falta de médico. É por falta de espaço físico”, diz a funcionária. 

foto ilustrativa 

A dura realidade da saúde pública

  1. Marivaldo disse:

    Médico gosta de trabalhar mesmo (exceto Médicos Sem Fronteiras) é em Clínicas e Hospitais Particulares e em seus consultórios particulares, inclusive cumprindo horários com rigor. E com isso mantém distâncias do cheiro de pobres dos serviços do SUS.

  2. Eduardo disse:

    tem que tirar essa imagem de um médico aê…como se ele fosse o prejudicado pela saúde pública de petrolina!!! que sofre é o povo!!! coloquem uma imagem do POVO morrendo!!!
    Petrolina ta cheio de médicos sem futuro que só pensa em ganhar din din!!!

  3. Priscila disse:

    Bem, a situação chegou a este ponto devida a fiscalização insuficiente, os gestores não exigirem o cumprimento da carga horária dos profissionais médicos e claro o fato da comunidade e dos profissionais de saúde não participarem efetivamente dos conselhos municipais de saúde e de reividicações que visem exigir melhorias na atenção à saúde.

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