Artigo do leitor: “Remendos ou reformas?”

por Carlos Britto // 09 de julho de 2013 às 20:32

Manifestantes no Congresso/Agência BrasilEnquanto o Congresso Nacional discute os principais pontos do plebiscito e se a reforma política valerá ou não a partir de 2014, os brasileiros continuam nas ruas cobrando uma discussão ampla sobre o futuro do país, além de melhorias nos mais diversos setores. Esse debate, com a participação ativa do povo, seria fundamental para o sucesso da reforma, segundo o presidente do Sindilojas em Petrolina, Joaquim de Castro.

Em artigo enviado ao Blog, Joaquim sugere a discussão de algumas temáticas específicas e reforça a ideia de que o povo brasileiro também precisa ter mais cuidado na hora de ir às urnas, no momento em que exercerá a cidadania e definirá os rumos do país.

Vejam:

Remendos ou reformas?

As manifestações que vêm ocorrendo no Brasil demonstram com clareza que a população cansou de um monte de coisas que nossos políticos vêm praticando, que irritam, revoltam e causam indignação. O povo reclama com razão, puxando a orelha dos mesmos, dizendo o seguinte: “Prestem atenção no que estão fazendo, vocês não são donos de seus mandatos/cargos, apenas nos representam. Precisam desempenhar bem as suas funções e prestar contas ao povo.”

Esse recado vem fazendo esses mesmos políticos tentarem, de emergência, resolver questões importantes que não deram a atenção devida. No entanto, agora, com o povo dizendo claramente o que não aceita mais, é preciso mudar. Os políticos querem apresentar soluções mágicas de uma hora para outra, com o intuito de fazer alguns remendos e acalmar as reações da sociedade.

Veja o caso da reforma política. Existem projetos dormindo no Congresso Nacional há mais de 10 anos, sem discussão, parados. De repente, diante do clamor público, tudo vai ser feito. O povo precisa ficar de olhos bem abertos. A nossa classe política, com raras exceções, perdeu a credibilidade, por isso vai tentar reconquistar a confiança perdida através desses projetos, esforçando-se para mostrar serviço.

A pressa pode provocar reformas intempestivas, sem o devido debate, o que poderá produzir resultados nada satisfatórios. E o que é pior: com o aval do povo, dependendo de como for feita a discussão. Se for referendo, o povo irá dizer sim ou não para um conjunto de normas já elaboradas, que poderá não ser o que a sociedade deseja. Se for plebiscito, terá a oportunidade de discutir antes toda temática que envolve a reforma, mas para isso é necessário que a consulta contemple todas as questões relevantes, não somente aquelas do interesse de alguns.

É preciso um debate equilibrado sobre alguns temas que envolvem a reforma política, que são importantes e determinantes para o seu sucesso. Não se pode pensar em reforma tocando apenas em alguns pontos isolados, temos que levar em conta todo o contexto. Uma reforma para valer passa pelo número de senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores. Tem que avaliar a questão do suplente de senador, a reeleição, o tamanho dos mandatos. O povo precisa opinar sobre a fidelidade partidária e também se está disposto a pagar a conta das campanhas. E, depois, pagar os altos salários dos eleitos.

É importante o povo participar da discussão sobre as coligações, voto distrital, voto obrigatório, propaganda e horário eleitoral gratuito, candidatura independente, candidato analfabeto, perda de mandato para político negligente, imunidade parlamentar, fórum privilegiado, entre outros. O debate tem que ser completo para que se tenha uma verdadeira reforma, caso contrário é remendo que não adiantará muita coisa.

O povo precisa refletir sobre uma coisa: se os políticos que estão aí, respeitadas as exceções, são descomprometidos, se elegem com um discurso e praticam outro, olham somente para seus interesses, fazem negociatas, se vendem, agem sempre pensando no voto da eleição seguinte; queira ou não, esses políticos estão representando seus eleitores. Se não é o que eles pensavam e queriam, ou foram negligentes, ou foram enganados, ou ainda negociaram o inegociável.

Portanto, qualquer discussão sobre o momento que o país vive precisa ser fiel e levar em consideração a necessidade de mudança na atitude do político, mas sobretudo do eleitor. Mudar a lei e ter um conjunto de normas mais eficiente é, sem sombra de dúvidas, imprescindível. Mas ter atitudes balizadas na ética é mais importante ainda.

A realidade mostra que a forma como as coisas estão sendo realizadas não está dando certo, todos estão perdendo. Então a busca deve ser direcionada para outro caminho, onde o país possa encontrar um ambiente que vislumbre o futuro e satisfaça os sonhos e anseios da população. Esse caminho deve ser escolhido pelo povo, discutindo, questionando, propondo, participando, ocupando o seu espaço de cidadão, exercendo a cidadania na sua plenitude. Aí sim, teremos um país descente, com um povo descente e políticos descentes.

Joaquim de Castro Filho/ Presidente do Sindilojas

Artigo do leitor: “Remendos ou reformas?”

  1. Harris G. Rodgers disse:

    Que venha a reforma política e, com base na lógica de suas definições, que venha também a melhor e a mais segura maneira, dos pontos de vista da ética e da moral pública, de custear as campanhas. Tal conjunto será a grande floresta da democracia e não a árvore dos pequenos interesses.

  2. jorgilson cabral disse:

    21:55

    O Senado rejeitou nesta terça (9) uma proposta de emenda à Constituição que proibia que parentes de sangue de até segundo grau sejam suplentes de senadores. A proposta teve apenas 46 votos favoráveis, abaixo dos 49 votos necessários para ser aprovada. A PEC também reduzia de dois para um o número de suplentes, que assumem o cargo de senador quando há afastamento temporário ou definitivo do titular.

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