Possível adoção do Enem pela Facape e UPE continua gerando controvérsias

por Carlos Britto // 14 de abril de 2012 às 07:20

O jornalista e companheiro de guerra, Manoel Leão, joga mais luz sobre o debate do Enem ser adotado pela Facape e UPE. Como lhe é peculiar, escreve um texto direto sem se preocupar com os julgamentos. Leiam o que ele escreveu:

Em defesa do ENEM para a FACAPE e UPE

Meu nome é Manoel Cavalcante Leão Netto, meu pai nasceu em Cabrobó e se casou em Araçatuba, interior de São Paulo com minha mãe, nascida lá, mas de pais vindos de Vitória da Conquista, na Bahia.

Eu e mais três irmãos nascemos todos em um bairro operário de São Paulo, o Jaguaré. Foi na igreja do Bairro, dedicada a São José Operário, que ampliei meu conhecimento do mundo e tive contato com os movimentos católicos da época, JOC – Juventude Operária Católica e Juventude Estudantil Católica – JEC.

Vim para Juazeiro em 1972 tocado pela ditadura, pois era integrante dos movimentos de resistência formados a partir de 1968, quando eu já estava na Universidade, pública. Meu batismo de fogo foi na Rua Maria Antônia, a Rua da Universidade Mackenzie.

Dos meus irmãos, uma continua em São Paulo, na capital; outro está no interior e outra no Espírito Santo. Eu, de Juazeiro fui a Salvador, onde voltei a estudar e depois, por amor, voltei e aqui fiquei. Todos os meus filhos nasceram aqui. São seis, de três mulheres, todas amadas e queridas.

Depois de anos e anos resolvi fazer vestibular e comecei o curso de direito na UNEB. Não seria um bom advogado, descobri e saí. Em 2010 fiz o ENEM e escolhi fazer Artes Visuais na UNIVASF. Com a média, 8,4, se não me engano, poderia ter escolhido outro curso, destes que garantem emprego e renda alta. Faço o que gosto.

Um dos meus filhos, o quarto, completou 18 anos agora em março. Está na UNIVASF Desde o começo de 2011. Os três primeiros já passaram pela Universidade.

Sou eu, meus filhos, minhas mulheres, meu pai e minha mãe; fruto e mistura da imensa diversidade deste País, onde mesmo durante os anos de chumbo que vivi, ninguém ficou impedido de ir e vir, de se estabelecer em qualquer recanto, dali tirar seu sustento, ali progredir ou não. Se contribuí com Juazeiro ou não, a História a seu tempo dirá. Como o fez com os pioneiros dos perímetros irrigados, como faz com os inovadores que trazem tecnologia, experimentam o novo em todos os campos, bem aqui mesmo em Petrolina, onde por escolha resolveram se estabelecer.

A escolha, agora muito mais, de onde viver e como viver se ampliou enormemente, mas mesmo antes existia. Os motivos continuam os mesmos: Todos querem viver mais e melhor, ganhar mais, em felicidade, em saúde, segurança e conforto.

Quantos dos médicos de Petrolina nasceram em Petrolina? Quantos dos engenheiros de Juazeiro nasceram em Juazeiro? Quantos dos artistas, dos professores, dos técnicos das mais diversas profissões nasceram em Juazeiro? E das mãos calejadas dos trabalhadores e trabalhadoras que mourejam nos campos de Petrolina e Juazeiro, transformando-nos em oásis do sertão, quanto sai da riqueza que beneficia ao final a todos? E quantos destes nasceram em Juazeiro e Petrolina?

Então ir e vir vale para quem veio e para quem vai. Sempre pelos mesmos motivos. Não será a exclusão do ENEM da UPE ou da UNIVASF que vai atrair mais talentos para Petrolina ou para Juazeiro. Não será a manutenção deste sistema de admissão à Universidade, o mais democrático e transparente já imaginado e colocado em prática, que redundará em maior ou menor desenvolvimento de nossa região. Não haverá mais engenheiros petrolinenses em Petrolina ou médicos juazeirenses em Juazeiro, se não houver condições técnicas, de trabalho e renda, em cada uma destas cidades e isso vale para todas as outras de nossa região.

Antes de questionar a inclusão da UPE ao ENEM, preferível é defender a inclusão da FACAPE neste sistema. É o novo, novas idéias e novas vivências, é a mistura, a integração, a diversidade que traz o novo. Entendo a resistência de Geraldo Coelho, um dos homens públicos mais dignos que conheço: ele defende, com honestidade e transparência, seus princípios ideológicos e, por isso, merece nosso respeito, nossa admiração, mas não a nossa concordância.

Manoel Cavalcante Leão Netto

Possível adoção do Enem pela Facape e UPE continua gerando controvérsias

  1. Maria disse:

    O Sr. Manoel foi muito feliz em sua reflexão.
    Quem tem medo do Enem? Os mercadores da educação que usam o marketing negativo para fazer com que a população desistam do Enem!
    Como eles não têm nenhum interesse em que os alunos reflitam, questionem, fiquem como um bocado de robozinho cheios de decorebas que não levam a nada, onde só os ricos tem condições de pagar colégios e cursinhos caros para programar os seus robozinhos aí quando vem o Enem que mostra o que esses mercadores estão fazendo com os nossos jovens, transformando-os em robôs, então eles se utilizam do marketing negativo para influenciar a população de que o Enem é mau. Gente, o Enem é BOM! Lutem para que seja cada vez melhor, e aceito por todas as Universidades e faculdades e tenhamos escolas e cursinhos realmente compromissados com a verdadeira educação para todos.

  2. Carlos Andre disse:

    Bom dia,

    não entendo mais nada em Petrolina, se essa notícia procede, a FACAPE está articulando para adotar o ENEM. ´Será mais pérola do Prefeito, que em seus discursos midiáticos é enfático em dizer que é contra ENEM, quer dizer para UNIVASF, será que pensa diferente em relação a FACAPE.
    Onde há fumaça há fogo, é bom ficar de olho.

  3. benne disse:

    PARABENS PELA DEDICAÇÃO E PELA FORMA INTELIGENTE DE ESPRESSAR SUA OPINIÃO. FICO MAIS CONVENCIDO NO QUE PENSAVA.

  4. GIODAI disse:

    O Manoel, que redigiu o artigo tem uma certa razão: as condições da trabalho e renda influem na escolha do lugar onde os profisionais irão atuar. PORÉM, esse fator não segura o profissional por muito tempo, visto que este só ficaria na região por interesses financeiros.
    Já um profissional nascido e criado na terra tem mais um motivo para permancer na região: sua famíĺia, seus amigos e o sentimento de estar em seu “lar”. O que vai diferenciar um natural da região e um forasteiro é o seguinte: uma cidade X, distante daqui, oferece mais dinheiro, daí o natural daqui pensaria o seguinte “Será que compensa eu ir? Esse dinheiro vai compensar a distância de minha família?” enquanto que o forasteiro vai pensar “Oba! Vou me mandar pra lá pois ganharei mais!”
    Perceberam a diferença?
    ABAIXO O ENEM EM PETROLINA!

  5. Dreda disse:

    Sábias palavras.

    1. Cecília disse:

      O forasteiro, portanto, não tem família em canto algum…
      Ilustração mais parcial.

      1. FireWall disse:

        Tem sim, porem o ENEM não valoriza os petrolinenses, muitos de outras cidades tomam vagas dos estudantes da região e já que você defende o ENEM me responda: O ENEM veio para todos porem quantos pobres, quantos ricos e quantos forasteiros tem na Univasf?? Porque para mim a maioria são filhos de papai com exemplo o curso de medicina, ou você prova o contrario?
        Então pra quê ENEM mesmo, pra beneficiar os ricos que estudam em escolas particulares ou os pobres que tem uma educação horrível e de baixa qualidade onde os próprios professores vivem se reclamando do próprio salario todos os dia?
        Minha querida use sua inteligencia pra lutar em favor de investimentos na educação e não em história de carochinha.

        1. GIODAI disse:

          Isso mesmo. Devemos admitir que o pessoal do sul do país e os das capitais são mais desenvolvidos e mais numerosos. E com o ENEM, a brecha fica aberta para eles ocuparem os lugares dos sertanejos. O ENEM só não seria empecilho se a educação e o IDH desta região fossem tão desenvolvidos como os dos sulistas e das capitais.

  6. ACORD@DINHO disse:

    É importante ler novamente a matéria para se falar algo sobre a FACAPE… ALÔOOO assessoria de imprensa do Palácio Verdinho, essa defesa é pra vcs fazerem, e não a mim!!! Alguém leu e não entendeu…O Jornalista não afirmou nada sobre FACAPE, mas isso tb cabe a ele falar por si.

  7. Rodrigo Costa disse:

    O Manoel, que redigiu o artigo tem uma certa razão: as condições da trabalho e renda influem na escolha do lugar onde os profisionais irão atuar. PORÉM, esse fator não segura o profissional por muito tempo, visto que este só ficaria na região por interesses financeiros.
    Já um profissional nascido e criado na terra tem mais um motivo para permancer na região: sua famíĺia, seus amigos e o sentimento de estar em seu “lar”. O que vai diferenciar um natural da região e um forasteiro é o seguinte: uma cidade X, distante daqui, oferece mais dinheiro, daí o natural daqui pensaria o seguinte “Será que compensa eu ir? Esse dinheiro vai compensar a distância de minha família?” enquanto que o forasteiro vai pensar “Oba! Vou me mandar pra lá pois ganharei mais!”
    Perceberam a diferença?
    ABAIXO O ENEM EM PETROLINA! [2]

  8. João Paulo disse:

    Senhor Manoel, pergunte os estudantes vindo de outros locais do país qual seria a preferência para eles estudarem, nos seus locais de origem ou aqui? As pessoas migram para buscarem melhores oportunidades de vida, não para melhorar a diversidade ou procurar o NOVO, mais para melhorar de vida.

  9. Breno S. Amorim disse:

    O Enem é a forma mais democrática de acesso ao ensino superior. Como bem disse o jornalista Manoel Cavalcante, mesmo em tempos de ditadura militar era, de certa forma, possível transitar de um lugar para o outro com facilidade; sendo assim, qual motivos teriamos para impedir essa liberdade, estando, nós, em um Estado “democrático”?
    No entanto, é importante que exista uma cota que beneficiem os estudantes da região. Mas querer tirar o Enem como forma de acesso à Univasf com o pretexto de dizer que a maioria dos alunos de medicina são de outras localidades, como já foi dito por pessoas de cursinhos pré-vestibulares, deve ser extinto. Pois, a universidade é composta por vários outros cursos, e não é, especificamente, uma universidade de medicina. Essa discussão é, de certa forma, vergonhosa, levando em consideração que, o Brasil é um só país, composto de brasileiros e não especificamente de pernambucanos, paraibanos, cariocas, paulistas, etc.
    Portanto, no meu ponto de vista, deve-se abrir vagas para todos, independente, de onde cada um reside. Para que assim vigore o sistema do “laissez faire, laissez aller, laissez passer”, que usado no meio comercial, possa também fazer-se presente na educação.

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