O leitor Antonio Marcos Santos, do Instituto de Desenvolvimento Social e Ambiental (Idesab), escreveu ao Blog sobre as questões atuais que envolvem a educação no país. Para ele, esse é um processo e abrangente, do qual apenas o professor não poder ser imputado pelo seu desempenho.
Confiram:
Superar o extremismo em educação
As extremidades parecem ser a regra no ambiente escolar. Na escola antiga, tinha voz e vez o professor – a sua palavra era a última que se levava em consideração. O aluno era culpado por seu fracasso. Se não aprendesse é porque era desinteressado e ponto final, argumentava o professor. O reprovado era o indisciplinado e nada se podia fazer contra isto. O professor tinha e detinha a palavra, o discurso competente, o que desqualificava as demais falas do ambiente escolar: pais e alunos. Ele era a referência e a razão da explicação do sucesso e fracasso do aluno.
Professor aqui envolve a gestão escolar, é claro. Vivenciava-se, com isto, o corporativismo: “um por todos e todos por um”. Este modelo era autoritário e não contribuiu para tornar a escola um dos instrumentos de construção da democracia social. O mundo mudou e com isto a escola sofreu os impactos sociais deste processo. A autoridade do professor para decidir foi posta em xeque. Vem sendo instalado outro modelo de escola: o aluno é o centro do processo educacional e sua palavra é essencial na tomada de decisões.
Deve exigir que: o professor deve dar aula-show para animar a plateia, não se admitindo aulas “chatas”, sem motivação; que o professor conquiste seus alunos para que aprendam – se não faz é culpado. Um ou vários alunos são reprovados é por culpa do “mestre”. Se há desinteresse por parte do aluno é porque o professor não teve competência para estabelecer a relação afetiva necessária para que os alunos aprendam, afinal a escola não deve ser trabalhar a razão, mas a emoção.
O professor deve gerar a química com os alunos, pois isto facilita a aprendizagem. Não fez e os alunos falam, a culpa é do professor, afirma a gestão educacional. Neste novo modelo, a avaliação do professor aparece como instrumento para balizar a sua culpa no insucesso do aluno, pois cabe a este a avaliação, seja diretamente – quando avalia o professor – ou indireta, através de provas que realiza externamente, quando o seu resultado ruim é atribuído ao “mestre”. O modelo centrado no aluno está em prática e seus resultados ainda estão sendo construídos. Aonde chegará? Não sabemos. Vai melhorar a educação? O futuro é obra dos profetas.
Independente disto, existem alguns contornos que se desenham neste modelo que podem contribuir para o seu fracasso.
Em primeiro lugar: estudar não é mesma coisa que lazer. Estudar exige disciplina e muita reflexão. Refletir dá trabalho e exige método e concentração. A escola não é a “Malhação”. Estudar é um processo de disciplina do corpo e da alma (mente). Estudar requer um processo de construção de lógicas e não de emoção.
Em segundo lugar: há um desvirtuamento do que é avaliação. A avaliação que vem sendo feita tem como principal objetivo culpar o professor, atribuindo a ele a única responsabilidade pelo insucesso do aluno na aprendizagem. A avaliação da escola deixa de ser um processo global de se pensar os aspectos envolvidos no ato educacional, mas a visão do educando ou da prova sobre o trabalho docente. A consequência é que a avaliação da educação, essencial e imprescindível para mudanças de práticas e direcionamento de ações, está recebendo a antipatia do professor, que a vê como mecanismo de sua deslegitimação enquanto profissional e de uso por parte de gestão escolar e colegas de desqualificação do trabalho do professor.
Interessante que os aspectos considerados, muitas vezes, quando o aluno avalia o professor em muitas escolas, são: as aulas são chatas, sem motivação, desinteressantes, o professor não sabe explicar, por isto não presto atenção, etc. De posse destas informações, alguns diretores já culpam sumariamente o professor. Nesta direção, a avaliação da escola deixa de ser um processo científico e passa a ser um processo casuístico, sem critérios ou critérios confusos e insuficientes, sem metodologia, sem cruzamento de dados e sem avaliar a globalidade da prática educativa = professor, aluno, gestão, infraestrutura escolar, etc. Assim, a avaliação já não reflete profundamente as causas que contribuem para o insucesso do aluno e diretamente da escola, mas um retrato superficial da realidade escolar: é a aparência da realidade – a moda da lógica da sociedade pós-moderna.
Por fim, o modelo em prática repete o autoritarismo na prática escolar, agora por outro viés – pelo lado do aluno.
É importante destacar que o modelo atual tem muitos avanços: e o principal é dar vez e voz aos alunos.
Contudo, entendemos que tanto o primeiro modelo quando o segundo é autoritário. Defendemos que o sucesso da escola está na contradição destes dois modelos, onde o educador se sinta apoiado, seguro e tenha cooperação e respeito para desempenhar sua função e o educando seja ouvido e valorizado. Ressalta-se que não é por imposição, como vários sistemas estaduais de educação vem fazendo, nem por modismo que se alcança a escola que está a serviço da justiça social e da sociedade democrática, mas no processo democrático de convencimento dos atores envolvidos com a escola.
Antonio Marcos Santos/Idesab



Concordo plenamente!!!!!
Muito boa sua elucubração a respeito do contexto escolar conteporâneo Profº Marcos! Fazer a comparação entre os dois modelos é muito pertinente à escola!