“Se o Rio São Francisco morrer será a morte de todos nós”, alerta Dom Luís Cappio

por Carlos Britto // 02 de junho de 2019 às 15:30

Dom Frei Luís Cappio. (Foto: IRPAA/Divulgação)

Conhecido pelo trabalho em defesa do Rio São Francisco, Dom Frei Luís Cappio, bispo católico da Diocese da cidade da Barra (BA), foi homenageado na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina. A certa altura da palestra o religioso parou, olhou com firmeza para o público e com o punho direito fechado, chegou a dar duas batidas firmes no púlpito onde estava, ao tempo em que dizia: “O Velho Chico não pode morrer! O Velho Chico não pode morrer”.

Dom Luís, como é conhecido o religioso, chegou a fazer dois jejuns em defesa do São Francisco e contra o modelo de transposição das águas do Velho Chico. Ele recordou os momentos de dificuldade e aprendizado com os jejuns, que ocorreram em 2005 e 2007, momento em que o governo federal aprovou o projeto de transposição. “Cada dia que passava eu me sentia mais debilitado, mais próximo da morte e eu imagino que seja a mesma experiência que o Velho Chico passa. Cada dia ele [o rio] se sente mais debilitado e mais próximo da morte. E nós não podemos deixar o rio morrer, porque se o rio morrer será a morte de todos nós”, alerta o Frei.

O bispo diz perceber que o rio segue num processo acelerado de degradação. Segundo Dom Luís, o “grito” em defesa do Velho Chico “foi ouvido pela população, mas não foi ouvido pelos grandes responsáveis [os políticos], aqueles que têm o poder dos recursos na mão para dar uma outra destinação ao rio”, reclama.

Na avaliação do religioso é incorreto dizer que o São Francisco está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), como é comum ouvir, tanto nas conversas do dia a dia, quanto nas produções da imprensa. “O Velho Chico não está na UTI… Está na fila do SUS [Sistema Único de Saúde] e não sabe quando será atendido”, fala Dom Luís, fazendo uma analogia entre a preocupante situação do rio e a de milhares de pessoas que aguardam em condições precárias por atendimento no sistema público de saúde.

Transposição

Dom Luís voltou a se posicionar contra as transposições do São Francisco argumentando que o rio nunca teve ações eficazes de revitalização, o que o faz “morrer dando a vida”. O Bispo de Barra acredita que é preciso “manter viva a luta pela vida” do rio e fazer “tudo o que for possível” para salvar o Velho Chico. “Se o rio morrer, leva junto o nosso caixão”, aponta Dom Luís Cappio.

A palestra foi organizada pelo Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (CRAD)/Univasf. O projeto atua diretamente para recuperação e conservação de áreas prioritárias da Caatinga, a exemplo dos trechos devastados com a construção dos canais da transposição.

Quase como uma resposta à provocação proposta no tema da palestra, o religioso disse que “as futuras gerações têm o direito de receber o rio vivo, como nós recebemos”. Ao final, enquanto o público o aplaudia de pé, Dom Luís empunhou um copo d’água e disse desejar que “os nossos filhos possam ter um copo d’água cristalina”.

“Se o Rio São Francisco morrer será a morte de todos nós”, alerta Dom Luís Cappio

  1. Francisco disse:

    O povo aplaudiu de pé ? Qualquer criança de 5 anos saber se o Rio morrer todos morremos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Últimos Comentários

  1. Essas modernizações só tem piorado a prestação dos serviços