Padre Antonio escreve artigo sobre o desemprego na fruticultura

por Carlos Britto // 12 de janeiro de 2009 às 09:30

A propósito da situação do desemprego no Vale do São Francisco gostaria de jogar um pouco de luz para que procuremos entender a origem da crise pela qual passa o mundo e que está chegando com força violenta em nossa região. É a contradição do capitalismo neoliberal. Pois lembro que Dom Helder dizia que o Capitalismo é intrinsecamente perverso, tem dessas coisas, provoca tudo isso. Vivemos hoje um tempo de profundas contradições e, sobretudo, de uma inaceitável situação onde o avanço científico e tecnológico é ordenado e apropriado pelos detentores do capital em detrimento das mínimas condições de vida de mais de dois terço dos seres humanos. As reformas neoliberais, cujo objetivo é de liberar o capital à sua natureza violenta e destrutiva. Essas reformas abortam as imensas possibilidades do avanço científico de qualificar a vida humana em todas as suas dimensões.
A crise que vivemos hoje é conseqüência deste retorno violento ao livre mercado e ao capital livre de qualquer regulamentação. Esse tempo assustador é denominado por Viviane Forrester como “error econômico”. É tempo de ampliação do desemprego, do trabalho precário e de uma situação de permanente angústia e insegurança daqueles que, para sobreviver, têm apenas sua força de trabalho para vender. Quem tiver tempo e disposição para ler veja o que diz FORRESTER, Viviane. “O Horror Econômico”. São Paulo, Editora da universidade Estadual Paulista, 1997. Nesta obra, a autora os problemas do trabalho e do desemprego, um sofrimento humano como sabemos, nos persegue até os dias de hoje . Vivemos em meio a um engodo magistral , um mundo desaparecido , que teimamos em não reconhecer como tal e que certas políticas artificiais pretendem perpetuar .
Milhões de destinos humanos são destruídos, aniquilados pelo mais sagrado tabu: o trabalho. A autora argumenta no livro que o trabalho funda a civilização ocidental, que comanda o planeta. Nossos conceitos de trabalho e , por conseguinte , de desemprego , em torno dos quais a política atua ( ou pretende atuar), tornaram-se ilusórios e nossas lutas em torno deles , tão alucinadas quanto as do Quixote contra os moinhos . Segundo a autora, participamos de uma nova era. E o pior, argumenta, sem conseguir observá-la, sem admitir e nem sequer perceber que a era anterior desapareceu. O sofrimento humano, um sofrimento real, gravado no tempo, naquilo que tece a verdadeira história sempre ocultada. Sofrimento irreversível das massas sacrificadas. Em outros termos, sofrimento de consciências torturadas e negadas uma por uma. Quanto ao desemprego, fala-se dele por toda parte, hoje, entretanto, o termo acha-se privado de seu verdadeiro sentido. São feitas laboriosas promessa
s, quase sempre falaciosas, que deixam entrever quantidades ínfimas de empregos.
Milhões de pessoas lutam contra o desemprego, sozinhas ou em famílias, para não deteriorar-se, nem demais nem muito depressa. Sem contar inúmeros outros na periferia, vivendo com o temor e o risco de cair nesse mesmo estado. Não é o desemprego em si que é nefasto, mas o sofrimento que ele gera e que para muitos provém de sua inadequação aquilo que o define, aquilo que o termo desemprego projeta, apesar de fora de uso , mas ainda determinando seu estatuto .
Um desempregado, hoje, não é mais objeto de uma marginalização provisória e sim objeto de uma lógica planetária que supõe a supressão daquilo que se chama trabalho , vale dizer, empregos . O social e o econômico pretendem ser sempre comandados pelos intercâmbios efetuados a partir do trabalho; este último desaparece rapidamente. Os desempregados vítimas desse desaparecimento são tratados e julgados pelos mesmos critérios usados no tempo em que os empregos eram abundantes. Eles se criticam, como são criticados, por viver em uma vida de miséria ou pela ameaça de que isso ocorra .Uma ínfima minoria , munida de poderes , de propriedades e de privilégios, detém o direito à vida , enquanto o resto da humanidade , para merecer viver , deve mostrar-se útil a sociedade, ou seja , lucrativo. É uma obra a ser revisitada e lida com atenção.
Lendo e confrontando-a com o que está acontecendo, verificamos assim a veracidade de suas analises. O que escreve no livro se verifica com muita clareza neste tempo de crise econômica mundial. Aqui no Vale do São Francisco.

Padre Antonio escreve artigo sobre o desemprego na fruticultura

  1. Francisco Antonio Ramos disse:

    Com as safras frutíferas do Chile chegando aos EUA e à Europa. Só podemos esperar uma coisa… DIAS PIORES VIRÃO!

  2. Flor disse:

    Na Economia tudo se adapta: se alguem chora, outro alguém vai vender o lenço.

    É sempre assim!

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