Morre no Recife escritor e dramaturgo Ariano Suassuna

por Carlos Britto // 23 de julho de 2014 às 18:33

ariano_no_festival_de_teatro_de_curitiba_--_lenise_pinheiro_folhapressMorreu no Recife, nesta quarta-feira (23), o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna, aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico. Segundo boletim médico, o escritor faleceu às 17h15. “O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana“. A família ainda não informou os detalhes do funeral.

A cirurgia da segunda foi feita para a colocação de dois drenos na tentativa de controlar a pressão intracraniana. Na noite de terça-feira (22), o quadro dele se agravou, devido a “queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada”, conforme foi informado em boletim.

Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando se sentiu mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e nenhuma visita.

Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.

Ativo até o fim

 Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade profissional. “No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra”, disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.

Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada.  Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o carnaval”, disse, na ocasião.

No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.

Na última sexta-feira (18), Suassuna apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno. No carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.

Obra

A primeira peça do escritor, “Uma mulher vestida de sol”, ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, “O Auto da Compadecida”, em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.

O escritor considera que seu melhor livro é o “Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A obra começou a ser produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de “A pedra do reino”.

Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.

Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990. (Fonte: G1-PE/foto: Lenise Pinheiro/Folhapress)

Morre no Recife escritor e dramaturgo Ariano Suassuna

  1. Petrolinense disse:

    Deviam ter o levado para São Paulo: maior e melhor pólo médico do Brasil.

  2. Machado Freire disse:

    Não sei como a maioria da juventude não interage, não toma conhecimento, não multiplica, não amplia uma prosa tão interessante sobre o grande Ariano Suassuna, tão bem lembrado pela imprensa nacional.

    Talvez porque a cultura de Ariano tem raizes no Nordeste, nesse torrão seco, maltratado e despresado.

    E, com certeza, porque hoje só se pensa no novo, no importado, na “invenção” inventada, no dinheiro (venha de onde vier) que não serve para fazer o bem aos miseráveis.

    Eu fico com João Grilo e com Ariano, que viverão para sempre, dentro e fora do Brasil !

    No meu coração sertanejo!.

  3. Jurema Quesado disse:

    Perdemos mais um grande Escritor. Mas a sua obra será imortalizada e jamais esqueceremos de Chicó, João Grilo do Auto da Compadecida, O Santo e a Porca, A Pena e a Lei, A Farsa da Boa Preguiça,O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e o Quinteto Armorial.

  4. Rafael disse:

    Mais um grande homem que se vai! deixou um grande legado para a cultura brasileira! Que Deus o coloque em um bom lugar!

  5. Luana disse:

    A literatura brasileira ficou mais pobre. Vai na paz GRANDE ARIANO.

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