De volta ao estádio, Forró da Espora encerrará São João de Petrolina juntamente com Missa do Vaqueiro

por Carlos Britto // 21 de junho de 2017 às 21:38

Foto/arquivo Blog do Carlos Britto

Figuras tradicionais do Sertão nordestino, os vaqueiros ganham um protagonismo ainda maior na época do São João. Em Petrolina, uma grande celebração religiosa e profana reúne mais de mil vaqueiros, de várias idades, de Pernambuco e da Bahia. A festa profana é o Forró da Espora, realizada na noite de São João – que este ano será sábado (24), seguida pela 76ª Missa do Vaqueiro, no domingo (25).

A novidade é que o Forró da Espora volta a acontecer no Estádio Paulo de Souza Coelho como originalmente, em vez do Pátio Ana das Carrancas.

“O estádio foi onde a festa começou há cerca de 20 anos, os vaqueiros gostam, por ser mais central. A gente criou o Forró da Espora para proporcionar algo para o vaqueiro antes da tradicional missa“, explica Domingos Sávio Brandão, o ‘Sivuca’, radialista e um dos organizadores da celebração.

A secretária de Cultura, Turismo e Esportes de Petrolina, Maria Elena de Alencar, também reforça a importância da festa. “O vaqueiro representa um legado cultural com suas manifestações no vestuário e na religiosidade. Este ano, resgatamos a festa para o estádio e assim vamos garantir que os vaqueiros presentes possam se divertir num ambiente onde eles poderão também abrigar seus animais da melhor forma”, disse a gestora.

O profano é levado a sério no Forró da Espora, que deve ir até as 3h da madrugada, ao som do legítimo pé-de-serra com apresentações dos trios Visão Musical, Novo Esquema e Sérgio do Forró. “O local é dividido em três salões: ‘Quem me quer’ para solteiros; ‘Já tem dono para casados’ e ‘Rabo da gata’, que é o geral, é a sobra”, explica Sivuca, acrescentando que a organização dos espaços foi uma estratégia para evitar brigas entre homens, que se ‘engraçavam’ com mulheres comprometidas.

Missa

Após a festa, os vaqueiros dormem no estádio e arredores para na manhã do dia seguinte, após café da manhã, por volta das 9h, seguirem em procissão montados nos cavalos até as margens do Rio São Francisco, na orla de Petrolina, onde é celebrada missa pelo Padre José Guimarães, também vaqueiro. A celebração faz uma homenagem póstuma a todos vaqueiros que já partiram.

A homilia conta com os apoiadores Josélio e Edivaldo, Coral Aboio Serrita e Zezinho do Violão. No momento do ofertório, é feita a benção dos arreios (instrumentos) dos vaqueiros – gibão, chocalho, guarda peito, perneira, chapéu, peitoral, luvas, botas, búzio (feito do chifre do boi), corda de laçar e cavalo. Ao final, por volta do meio-dia, é servido almoço para os vaqueiros que voltam a festejar com show da dupla Sirano e Sirino.

De acordo com o radialista Sivuca, a missa em Petrolina é a mais antiga das celebrações entre os vaqueiros e originou outras como a realizada em Serrita. “Chico Barbeiro, pai do monsenhor João Câncio,  criou a missa de Petrolina por conta de um vaqueiro que tinha se acidentado, o Caboco Timóteo”, conta. Já a missa realizada em Serrita foi idealizada pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e rezada pelo padre João Câncio dos Santos em 1971, em homenagem ao vaqueiro assassinado Raimundo Jacó (primo de Gonzagão).

Na Missa do Vaqueiro em Petrolina, também é feita a entrega de medalha de Honra ao Mérito Carlos Augusto aos vaqueiros mais antigos em atividade. Este ano, recebem a premiação: José Coelho de Amorim (Cazuza), José Joaquim do Bom Jardim, Ivanildo Soares Amorim, Pedro Juvenal e Raimundo Conceição Ribeiro de Souza. A premiação foi criada no ano passado pela secretária de Cultura Maria Elena, quando exercia seu mandato na Câmara de Vereadores.

Estimativa

Sivuca estima que cerca de 1.100 vaqueiros, entre crianças, jovens e idosos, devem participar da cavalgada e missa. São vaqueiros urbanos e de áreas rurais de Petrolina e de outras cidades como Afrânio, Casa Nova, Lagoa Grande e Dormentes. Um boi domesticado também participa do desfile, enquanto um caminhão leva os vaqueiros mais velhos que não podem mais cavalgar (são os chamados ‘Generais do Gibão’). Duas Frevucas garantem o som no trajeto. Sivuca foi o criador da Frevuca, um automóvel adaptado para fazer a sonorização do desfile dos vaqueiros, que teve como inspiração a Frevioca, existente no Carnaval do Recife.

Ele foi parceiro por muitos anos de outro radialista, Carlos Augusto Amariz, organizador da missa e da festa, falecido há dois anos. “Depois da morte dele, dei continuidade para não deixar essa tradição morrer. A Missa do Vaqueiro está na 76ª edição, existe há cerca de 30 anos, sem interrupção. É a tradição mais rica, mais antiga que temos aqui, une o interior e a cidade na paisagem do rio. É muito importante valorizar o vaqueiro, que está quase em extinção e sobrevive à seca“, destaca. As informações são da assessoria. (Foto/divulgação PMP)

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