Crise já atinge a produção dos pequenos

por Carlos Britto // 26 de janeiro de 2009 às 21:41

No segundo dia da série Crise no São Francisco, a reportagem mostra que as dificuldades enfrentadas na região não se limitam aos grandes exportadores. Muitos dos pequenos produtores estão apreensivos com a possível falta de mercado e o acirramento da disputa interna que poderá trazer impacto sobre o preço. Alguns já defendem uma menor dependência do Vale sobre a uva e a manga.


Aos 54 anos de idade e uma vida toda dedicada à agricultura, Antônio Pereira de Oliveira se queixa – discretamente – de só conhecer produtor, o que reduz consideravelmente a possibilidade de conquistar novos mercados. Apesar disso e dos milhões de reais que o separam dos grandes produtores da região, seu Antônio já ouviu, sim, falar da crise mundial. “Já ouvi que está uma quebradeira grande por conta dessa crise. Mas nós já somos quebrados mesmo…”, conforma-se o produtor, dono de 1,5 hectare, em Casa Nova. Mesmo assim, ele demonstra preocupação com relação ao preço alcançado pelo quilo da uva. Seu Antônio produz uva com semente. Boa parte da colheita é comprada pela vinícola Miolo, que arrenda um total de 100 hectares para pequenos produtores. É lá que ele e sua família trabalham diariamente para obter 15 toneladas da fruta por safra. São duas safras e meio por ano. A organização do arrendamento é feita pela Associação de Produtores da Fazenda Ouro Verde (Aprov), propriedade da fazenda de mesmo nome e pertencente ao grupo Miolo. Outro produtor que, inclusive, já presidiu a associação, Jeferson Vieira Fonseca, diz também ter receio de que o preço do quilo da uva seja negociado por valores mais baixos. “Normalmente fechamos a venda da produção toda para a vinícola. Ela paga em média R$ 1 por quilo. Acho que a crise vai terminar baixando mais o preço, mas não podemos vender por menos de R$ 0,90”, calcula.

Dono de oito hectares voltados para uva, Jackson Souza Lopes, da Fazenda Top Fruit, estava estreando este ano na exportação da fruta. “Não dá nem para mensurar o tamanho da crise na empresa. Devo ter o fechamento das operações no início de fevereiro, mas já ouvi falar que alguns foram vendidos pela metade do esperado, que era de US$ 2 cada quilo da uva”, diz ele, que tem sua operação auxiliada pela VDS – uma empresa que compra a produção dos menores e faz a ponte no mercado externo. Segundo Lopes, foram investidos cerca de R$ 40 mil por hectare para alcançar a produtividade média de 28 toneladas anuais.Os integrantes do Manga Brasil, uma associação localizada em Juazeiro, com 74 produtores, donos de uma média de três hectares cada, uniram-se para ganhar força no mercado externo. Até construíram uma packing house para atender aos associados – algo que os coloca bem à frente dos demais, que dependem da estrutura dos grandes. O produtor Josival Pereira da Silva conta que o valor do quilo da manga variou entre R$ 0,60 e R$ 1,15 no primeiro semestre. “Já no segundo atingiu o equivalente a R$ 0,25 em muitas vendas. O nosso custo médio de produção é de R$ 0,35”, diz ele. Como parte da exportação do Manga Brasil é feita por uma organização não-governamental da Holanda, os preços terminaram não sendo tão aviltados no exterior. Ainda assim, o balanço com as vendas dos 3 milhões de quilos só será feito nas próximas semanas. Na área de plantação do Manga Brasil, alguns terminaram retardando a colheita este mês à espera de melhores preços para comercialização.

Fonte: Jornal do Comércio

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