CPI da Petrobras provoca crise entre DEM e PSDB

por Carlos Britto // 17 de maio de 2009 às 14:34

agripino-e-virgilioRompeu-se a unidade de tucanos e ‘demos’ na ação legislativa. Os dois maiores opositores de Lula já não falam a mesma língua.

 As relações entre PSDB e DEM vêm se esgarçando há tempos. Os arranhões converteram-se em ferida exposta na última quinta (14).

No atacado, puseram-se de acordo em relação à CPI da Petrobras. No varejo, conduziram no Senado estratégias bem diferentes.

Com a tropa dividida, o DEM referendou o acordo que adiava a CPI. Topou ouvir a Petrobras antes de deliberar sobre a investigação.

Lanças em punho, o PSDB vetou o acerto. E pôs de pé a CPI. José Agripino Maia e Arthur Virgílio não se falam faz quatro dias.

Antes, eram vistos como unha e cutícula. Agora, nem tanto. Em privado, o líder do DEM tachou a reação tucana de “juvenil”. Comparecera à reunião que resultou no acordo com procuração do PSDB.

Virgílio o autorizara a falar em seu nome no colégio de líderes. Comunicado acerca do resultado, o líder tucano reagira bem.

Depois, Virgílio foi empurrado para o dissenso por sua bancada. Os líderes do DEM e do PSDB sabem que tem contas a ajustar. Mas intuem que o tema, por delicado, exige o olho no olho.

Por isso recusam a conveniência de uma conversa telefônica. Agripino passa o final de semana em Natal (RN).

Virgílio aproveita a folga para visitar áreas alagadas do Amazonas. Prevêem para terça (19), em Brasília, o desbaste das arestas.

 O mais provável é que a conversa resulte em panos quentes. PSDB e DEM tem encontro marcado na sucessão presidencial de 2010. Por isso, convém a ambos mandar para baixo do tapete as divergências.

Mas o tapete ficou pequeno. Pedaços das diferenças estão expostas ao redor. Começaram a vazar pelas bordas na já remota batalha da CPMF.

Os ‘demos’ trazem atravessada na traquéia um quase-recuo dos tucanos. Na madrugada que antecedeu a votação, o PSDB acertara-se com o governo.

Depois, num diálogo com o travesseiro, Virgílio se deu conta do inusitado do gesto. Rememorou os compromissos que assumira em meses de articulação.

Teve de acenar com a renúncia à liderança para devolver ao partido o ânimo anti-CPMF. Depois, sobrevieram os desacertos regionais.

Juntos no projeto de poder nacional, ‘demos’ e tucanos divergem em vários Estados. Há duas semanas, postaram-se em lados opostos na votação de uma MP.

A medida provisória embutia um plano de refinanciamento de débitos tributários.

Foi aprovada. Virgílio encaminhou contra. Agripino, a favor, junto com o governo.

No caso da CPI da Petrobras, o Planalto tentou tirar proveito da divisão dos rivais. Na noite de quinta (14), um operador de Lula tocou o telefone para Agripino.

Consultou-o sobre a hipótese de o DEM pular fora do requerimento de CPI. Agripino refutou a hipótese. “A chance de retirarmos as assinaturas é zero”.

No dia seguinte, o Planalto pôs-se a assediar diretamente os senadores ‘demos’. Agripino, a despeito do pé atrás em relação ao tucanato, ergueu barricadas.

Segurou duas defecções. Perdeu uma assinatura, a de Adelmir Santana (DEM-DF). Mantida a CPI, a cúpula do PSDB dirige palavras de “afeto” a Agripino. Elogiam-lhe a fidelidade. Enaltecem-lhe a tenacidade.

Nos próximos dias, os dois lados devem desfraldar a bandeira branca. O projeto de 2010 condena-os à convivência. Porém… permanecerão juntos por conveniência, não mais por convicção.

 Informações do Blog do Josias

Foto dos senadores Agripino e Arthur Virgilio: Jose Cruz (ABr)

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