A violência doméstica sempre esteve presente na sociedade, fazendo das mulheres um dos alvos mais vulneráveis em todas as classes sociais. Cristiana Damasceno, de 37 anos, viveu momentos de terror ao lado do ex-companheiro quando tinha 22 anos de idade. Natural de Dormentes (PE), no Sertão do São Francisco, ela foi morar no Sul do país, onde foi agredida e quase morta.

Cristiana sofreu tudo que poderia tirar o sorriso do rosto de uma pessoa. Mas ela não desistiu, deu a volta por cima e hoje (9) contou tudo a este Blog. Ela disse que levou quatro tiros do ex-marido, ficou cega já no primeiro disparo e passou 6 meses sem andar. De acordo com Cristiana, que hoje mora em Petrolina, o motivo de tudo foi ciúmes.

“Eu era casada, tive um problema com meu esposo e ele me deu quatro tiros. Tudo começou por conta de ciúmes. Nosso relacionamento era pra ter sido acabado, mas a gente foi empurrando, empurrando… Não dá nem pra explicar o que leva um ser humano a fazer isso com outro”, relata, informando que foi socorrida pelas patroas.

Cristiana disse que, durante os seis meses que ficou sem andar, pessoas desconhecidas se sensibilizavam e a ajudavam. Sobre o ex-marido, ela disse que a justiça foi feita “do jeito dela”. “A justiça entrou, fez a parte dela, do jeito dela, e pronto. Cada um está vivendo a sua vida. Sei que mora pra lá [no Sul], mas não me interessa. Hoje minha vida está reconstruída, me casei de novo, vivo bem e a vida continua. Mas a gente precisa saber botar uns pontos onde não está dando certo”, disse.

Mesmo com limitações, ela cuida de tudo. “A única coisa que eu não aprendi foi andar sozinha na rua. Não aprendi porque tenho medo. Eu só tenho que agradecer a Deus. Botar o que aconteceu de ruim na vida da gente como aprendizado. Já imaginou eu com depressão? Eu gosto de ajudar as pessoas. Se for preciso, bato na porta, faço tudo. Então, porque eu vou reclamar da vida?”, pondera.

Aconselhamento

Com relação aos atritos durante a relação, ela disse que acreditava que o ex-marido ia mudar. Ela mandou um recado para as mulheres que sofrem caladas, acreditando numa mudança que não vem. “Às vezes, a gente acha que vai mudar. Mas só muda quando os dois querem. Eu não aconselho nenhum dos dois viver juntos quando não está dando certo. Não deu certo, cada um toca a sua vida. Com agressão, não compensa. Primeiro agride com palavras, depois chega nos ‘finalmentes’”, alerta.

Guerreira, vencedora e exemplo. Estes adjetivos podem ser utilizados para caracterizar essa sertaneja, que hoje sorri do passado, é feliz e ainda dá exemplo. “Eu sou feliz porque eu aprendi a viver a vida de outra forma. A gente enxerga com o nosso coração, com a mente. Aprendi a dar mais valor à vida. Sou feliz, sou guerreira, apesar dos preconceitos. Jamais abaixarei a minha cabeça”, finaliza Cristiana.

Campanha

Lançada no último dia 24 de maio, a Campanha “Amor Sem Violência”, uma idealização deste Blog, em parceria com a Prefeitura de Petrolina através da Secretaria da Mulher, tem o objetivo de chamar a atenção da sociedade e mobilizar as pessoas pelo fim da violência contra o gênero, além de estimular as denúncias. A Campanha também encoraja mulheres a denunciar casos de agressão através do número 180 (central de atendimento para casos de violência contra a mulher), pelo tradicional 190 e ainda por meio de instituições e pessoas ligadas à causa.