A estratégia Jarbas

por Carlos Britto // 18 de fevereiro de 2009 às 00:53

Por Luis Nassif.

Não é difícil entender as razões por trás da entrevista do senador Jarbas Vasconcellos à revista Veja.
Na entrevista ele acusa seu partido, o PMDB, de abrigar corruptos e lutar por cargos. Faltou explicar onde está a novidade. No governo FHC, esse mesmo PMDB, tendo como pontas-de-lança o Ministro dos Transportes Eliseu Padilha e Gedel Vieira Lima, uma seleção enriquecida por Gilberto Miranda e outros notáveis, negociou cargos, benesses e massacrou Itamar Franco na convenção do partido. E os episódios ocorreram nos tempos em que Jarbas era dos grandes nomes do partido. É o mesmo PMDB de agora, com os mesmos personagens de antes.
O papel do PMDB e as formas de cooptá-lo fazem parte do know-how de governabilidade criado por FHC e apropriado por Lula. Então, qual a razão da indignação tardia de Jarbas? É aí que se entra na parte mais interessante da entrevista: a maneira como foi preparada. Na semana passada Lula colocou o bloco de Dilma na rua. O fato veio acompanhado da divulgação das pesquisas de popularidade do governo, da constatação de que as medidas anticíclicas começam a dar certo, do encontro de prefeitos. Esse início, aparentemente avassalador, assustou o PSDB. Serra ensaiou seu PAC contra a crise (cinco meses depois da crise deflagrada!). E, em reunião na casa de FHC, decidiu-se, de um lado, acirrar os ataques ao governo no Congresso, dificultando a aprovação de medidas. De outro, criar um fato político que contrabalançasse o jogo. Não havia denúncias à mão. As grandes denúncias ficaram no primeiro governo Lula. As denúncias-tapioca não pegam mais.
Decidiu-se, então, pela entrevista do Senador Jarbas Vasconcellos à revista Veja. Jarbas é ligado a Serra e, muitas vezes, pensou-se na dobradinha para as eleições presidenciais. Há tempos perdeu o ímpeto político. Na segunda metade do seu governo, praticamente passou o comando ao vice-governador e alienou-se completamente da administração. Questões existenciais compreensíveis, pelas quais passam todas as pessoas. Mas tem uma bela reputação, formada nos tempos em que era do extinto PMDB autêntico. Foi convocado, então, para criar o fato político. O órgão escolhido foi a revista Veja – com a qual Serra mantém relações recentes, porém estreitíssimas (é ele, por exemplo, o principal avalista do tipo de jornalismo praticado por Reinaldo Azevedo).
A entrevista de Jarbas é um prato feito e óbvio. Primeiro, critica seu próprio partido, para ganhar credibilidade – e porque o partido está na base de sustentação do governo. Depois, parte para os ataques seletivos. Ataca o presidente do Senado José Sarney, que é contra Serra, e poupa o da Câmara, Michel Temer, que é a favor. A rigor, não existe diferença de estilo entre ambos. Até pouco tempo atrás, a Codesp era loteada para Temer. Depois, atacou Renan Calheiros, que é contra Serra, e poupou o alvo preferencial dos moralistas políticos do passado, Orestes Quércia – que virou serrista. Julgando ter passado uma visão desprendida da política, uma visão escoteira do sujeito só e com sua consciência, Jarbas ganha moral para avançar no alvo que interessa. Aponta a conivência de Lula com a corrupção – por só demitir acusados depois de comprovada a culpa -, deixa de lado pontos chatos – como o amplíssimo sistema de cooptação montado por Eliseu Padilha no DNER, no tempo de FHC. Critica a Bolsa Família e se refere assim aos possíveis candidatos de 2010:

Sobre Dilma
Como o senhor avalia a candidatura da ministra Dilma Rousseff?
A eleição municipal mostrou que a transferência de votos não é automática. Mesmo assim, é um erro a oposição subestimar a força de Lula e a capacidade de Dilma como candidata. Ela é prepotente e autoritária, mas está se moldando. Eu não subestimo o poder de um marqueteiro, da máquina do governo, da política assistencialista, da linguagem de palanque. Tudo isso estará a favor de Dilma.

Sobre Serra
O senhor parece estar completamente desiludido com a política.
Não tenho mais nenhuma vontade de disputar cargos. Acredito muito em Serra e me empenharei em sua candidatura à Presidência. Se ele ganhar, vou me dedicar a reformas essenciais, principalmente a política, que é a mãe de todas as reformas.
Ou seja, a opinião sobre Serra é desinteressada, apenas de um apaixonado. Mesmos os amigos mais fiéis de Serra jamais deixaram de reconhecer nele as características que Jarbas aponta em Dilma: autoritário e prepotente. Mas a paixão é cega.
Dado o tiro de largada, ontem o Jornal Nacional repetiu e hoje os analistas políticos passam ao seu esporte predileto: a indignação seletiva.
A política brasileira é uma colcha de retalhos, com furos para todos os lados. O que a imprensa faz é selecionar o furo que lhe convém e aplicar na defesa dos seus próprios interesses – e de seus aliados.
Só que a imagem de imprensa neutra e defensora dos altos valores da moralidade já não existe: se esboroou a partir da campanha de 2006.
Um ano depois, alguém ousaria dizer que Veja é melhor do que Renan?

A estratégia Jarbas

  1. Francisco disse:

    A Veja não é uma revista, é um mero folhetim

  2. UMBERTO ALVES disse:

    Essa matéria reflete muito bem as intenções de Jarbas e seu grupo. O povo já conhece essas manobras e está atento à elas. Quem não lembra do compromisso assinado e registrado em cartório, que JOSÉ SERRA então prefeito da capital paulista assumiu em público? Jamais deixarei a prefeitura para assumir qualquer outro cargo. Na primeira oportunidade cadidatou-se e foi eleito governador, desconsiderando o que houvera prometido. Essa gente gosta mesmo é do PODER, e o povo que se……………….

  3. Anastácio Nunes Maranhão disse:

    Não sei quem é pior a Veja, Serra, Dilma, Renan, Sarney, Temer…
    Que time hein?
    Amedronta qualquer mortal…

  4. Ismênio disse:

    O Nassif é chapa branca e a Veja é tucana. Mas que Jarbas disse muita coisa que todo mundo sabia e não tinha oportunidade (ou coragem), isso sim…

  5. Eduardo disse:

    Durante toda vida política de Jarbas ele esteve atrelado ao PMDB, beneficiando-se de cargos e do próprio poder.
    Não é de agora que nessa sigla partidária existe a prática de corrupção e esse político somente está falando isso agora porque está correndo risco de perder o controle do PMDB para o grupo político de Eduardo Campos, e tenta a todo o custo “queimar” o partido para tentar sair “por cima”.
    Por um lado é bonito ouvir falar que a política não presta e que os partidos são corruptos, afinal de contas é o que o povo quer ouvir, contudo, temos que ter a desconfiança de que esse político sempre se utilizou do mesmo PMDB para ser Senador e para ser Governador de Pernambuco, e por que somente agora foi que ele veio descobrir a corrupção? Por que ele não falou isso antes?
    Lembro desse homem quando era Governador e do total desprezo para com o Vale do São Francisco. Ele não tem a minha confiança!!!

  6. Opara disse:

    Infelizmente, um dos redutos da imparcialidade jornalística vem sendo deteriorado… admirava muito o jornalista Luís Nassif… mas de um tempo para cá… vestiu a camisa do PT… virou jornalista pelego. De qualquer forma, ele está certo no que diz acima… só esqueceu de dizer que Lula usa dos mesmos meios espúrios para manter-se no poder.

  7. Wildes Jackson Lopes disse:

    Tudo o que se disse não é novidade.Está certo o articulista.O que ele não dá ênfase é que as verdades saiam à boucas miúdas, quase miando.Agora elas sairam com estampidos, pois saíram da fornalha de um político com história, e que fala do partido ao qual pertence.Polêmico, praticou erros . Jarbas, no entanto tem caráter inabalável, e por isso a alta imprensa o ouve.É por isso que na opinião pública repercurte o seu gesto.Interesses todos têm.Agora visualizar, por ora, em um político que cumpriu em sua carreira os mais altos cargos, é difícil.
    Depois, que o Brasil melhorou na economia e que há dados importantes a comemorar, como a elevação real do salário mínimo, não há que se questionar.Agora, igualmente inquestionável é aleniência das autoridades brasileiras no trato com a corrupção nas três esferas do poder.Por tudo isto, uma sociedade que se pretende assumir uma condição fortalecida neste novo milênio, precisa discutir a corrupção, num verdadeiro mutirão com vistar a fixar a corrupção no Brasil a níveis civilizados.Até pode se abster o autor da denùncia, a causa jamais.O desprezo do alto comando dos partidos políticos para com o tema é deplorável.

  8. Luis Nassif disse:

    Se eu estiver errado por favor me corrijam!
    Em Pernambuco esta opinião de LUIS NASSIF só foi publicado aqui neste BLOG!
    No Jamildo ou Martins não ví nada publicado, ao contrário publicaram a opinião Arnaldo Jabor que é um direitão desesperado!

  9. O calculista disse:

    Lamentavelmente, tudo o que Jarbas falou é verdadeiro para todos os partidos. No PMDB tem mais corruptos, porque ele é o maior partido. Tem menos corrutos aquele partido que é o menor. Jarbas se determinou fazer esta declaração agora, certamente porque somente agora existe maior conveniencia para ele. Mas tudo indica que este foguete vai virar “traque bufa de véio”.

  10. David nomero De Macedo disse:

    QUANDO A OPOSIÇÃO RECLAMA, A MAIOR PARTE DOS BRASILEIROS ACHAM RUÍM,COMO SE OPOSIÇÃO FOSSE PARA FICAR CALADO. SÓ QUERO VER QUANDO ISSO AQUI VIRÁ UMA VENEZUELA.QUANTO AO NASSIF, SANTA PACIENCIA, É UM BABÃO DE CARTERINHA DO PT.

  11. João disse:

    Jarbas quer se aparecer, se não tem a quem criticar fala do seu próprio umbigo. Jarbas e Roberto Freire são iguais a 6 e meia dúzia. São farinha do mesmo saco e daquelas que é ruim de comer. Jarbas o bomzinho que não prestou enquanto governo, que o diga EDUCAÇÃO, SAÚDE, FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, SEGURANÇA E OUTROS, o texto é extenso….

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