Uma história abnegada de amor e dedicação pelo povo sertanejo

por Carlos Britto // 02 de novembro de 2015 às 06:00

osvaldo coelho

O ex-deputado Osvaldo Coelho, falecido na noite de ontem (1) em sua residência no Recife, vítima de um infarto fulminante aos 84 anos, não foi apenas um político. Ele foi um abnegado que não mediu esforços para defender o Sertão e o povo que tanto amou.

A história do Sertão do São Francisco tem um divisor de águas: antes e depois de Osvaldo Coelho e de seu irmão – o ex-governador Nilo Coelho. Eles deram início à redenção da mulher e do homem sertanejo, fazendo valer o potencial do Vale do São Francisco como instrumento para transformação social e econômica.

A sua bandeira regional sempre foi a irrigação e água para o semiárido. Cuidou como ninguém antes o fizera da construção de açudes, da perfuração de poços, do abastecimento d’água, da eletrificação e telefonia rural, da construção de estradas e adutoras, da implantação dos projetos públicos de Irrigação, tudo isso direcionado para a geração de empregos e libertação das muitas formas de atraso da região da caatinga.

Osvaldo Coelho teve como bandeira nacional a educação. Lutou pela universalização do ensino fundamental. Na constituinte de 1988, foi autor do artigo 60 das Disposições Transitórias, indicando que 50% dos recursos constitucionais destinados a educação nos estados e municípios, fossem gastos no ensino fundamental.

Foi esta a chamada “Lei Osvaldo Coelho”, que propiciou a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), instrumento que deu início ao resgate da dignidade dos professores das escolas públicas brasileiras.

Criou em Petrolina a Escola Agrotécnica e a Escola Técnica, a fim de preparar a mão de obra para fazer face ao desenvolvimento da região. Lutou pela oferta do ensino superior aos jovens sertanejos. Fundou o Cefet e ajudou a fundar a Univasf, portas abertas para o avanço da ciência e tecnologia.

Formação e política

Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, exerceu três mandatos como deputado na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Foi secretário da Fazenda e consagrado com oito mandatos para a Câmara Federal.

Casou-se com Ana Maria, sua grande companheira, com quem teve seis filhos.

Escolheu o ofício de político com o objetivo maior de ajudar o próximo. Realizar benfeitorias para a comunidade foi sua paixão. Em um dos seus últimos discursos na Câmara dos Deputados, intitulado “Eu Acuso”, ele culpou o Governo Federal, o Congresso Nacional e a Grande Imprensa do país pela indiferença como é tratada a região semiárida, com o sofrimento do sertanejo.

Conhecido como o “Deputado da Irrigação”, Osvaldo também carregou a marca de ser o desbravador da educação ao brigar pela expansão do ensino superior no Vale do São Francisco. Costumava autoproclamar-se um deputado “distrital”, porque nunca se preocupou em buscar votos em outras áreas do interior do Estado. O seu universo era apenas o São Francisco, pelo qual dedicou-se de corpo e alma durante mais de 50 anos de vida pública, que soube exercer com bravura e seriedade.

Depois de onze mandatos – entre Assembleia Legislativa e Câmara Federal (o que representou 44 anos participando da vida política do país), no último pleito, em 2006, Osvaldo recebeu a expressiva votação de 72.109 votos – insuficientes, contudo, pelo sistema proporcional, para manter o seu irretocável mandato na Câmara dos Deputados.

Em seu artigo, “Obrigado pelo seu voto”, publicado pelos principais jornais do Estado e enviado aos seus eleitores, sereno e sem ressentimentos por não ter sido eleito, nada lamentou. Só agradeceu.

No artigo ele ainda escreveu: “fiz todo o possível para que o Sertão tivesse um sonho melhor e consegui várias conquistas. Hoje, a região a qual represento é dotada de um aeroporto internacional, uma Universidade Federal, um Cefet, e é conhecida internacionalmente como a Capital da Irrigação. De acordo com o IBGE, em 2004, dentre os 5.560 municípios do Brasil, Petrolina ocupa a 3º posição no PIB agropecuário municipal, graças à fruticultura irrigada. Deixo implantado, em funcionamento, o Projeto de Irrigação Maria Tereza. Deixo concluída a primeira etapa do projeto de engenharia do Empreendimento Canal do Sertão de Pernambuco, que irá viabilizar economicamente 17 municípios da Região Oeste do Estado e em fase de conclusão de obras o Projeto de Irrigação Pontal. Deixo Petrolina com a responsabilidade de ser uma metrópole regional dotada de fonte de renda, de infraestrutura de transporte e de um importante centro educacional. Aos que pretendem se enfileirar no mesmo caminho da minha luta, sugiro que insistam em reduzir a maior taxa nacional de analfabetismo, triste realidade do semiárido nordestino. Persistam na luta para obtenção de um crédito subsidiado, compatível com as condições climáticas do semiárido. Exijam-se do Governo mais incentivos às atividades produtivas, como a bovinocultura, a ovino-caprinocultura, a piscicultura e a apicultura, atividades econômicas que possibilitam a inclusão social. Ênfase especial deve ser dada à Irrigação, à implantação de Projetos Públicos de Irrigação”. (fonte: site eternoosvaldocoelho.blogspot.com.br)

Uma história abnegada de amor e dedicação pelo povo sertanejo

  1. GUILHERME VITOR= CONSTERNADO disse:

    SEMPRE ME ENTRISTECE O FATO DA MORTE!!.
    EMBORA ELA SEJA INEXORAVEL!!!.
    ACREDITO QUE MORRER NAO SEJA O FIM DE TUDO!! PELO MENOS AS PESSOAS QUE SE VÃO DEIXAM UM LEGADO!!. SEMPRE ALGO QUE MARCA…QUANDO ISTO PARA O BEM DE PESSOAS OU COISAS.
    DESCANSE EM PAZ!!!!!.

  2. NASCIMENTO disse:

    Agora foi o último homem político verdadeiramente sertanejo, o vale ficou órfão de defensores de causas válidas para o sertão que conhecia na pele a árdua vida de quem depende da selva árida ou daqueles que cogitam em arriscar e acreditam na agricultura como fonte de desenvolvimento desta região que entre tantas sofridas teve o rumo mudado por mentes que eram certamente sertanistas…

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