O clássico da teledramaturgia brasileira “O bem amado”, de Dias Gomes, que já teve uma adaptação para o cinema, agora chega em uma versão teatral em Juazeiro. A peça está em cartaz neste sábado (9) e domingo (10), às 20h, no Centro de Cultura João Gilberto.

São oito atores em cena. Com participação do Grupo Cultural do Rodeadouro, eles contam a história do político corrupto e demagogo, Odorico Paraguaçu. O personagem, criado há décadas e imortalizado pelo ator Paulo Gracindo, infelizmente, ainda é a síntese de muitos políticos contemporâneos.

A interpretação do personagem principal é de responsabilidade do ator Jota Neto, que é praticamente um estreante nos palcos da região. A aposta é do diretor, Hertz Félix, artista com um currículo impressionante. Em 26 anos como profissional devidamente registrado, Hertz atuou, dirigiu e produziu 63 espetáculos teatrais.

A caminhada começou como amador em 1974, com uma peça de sua autoria chamada “ O bruxo Misterioso”. Mas o talento foi testado também em 11 radionovelas, nove filmes e três telenovelas – a mais famosa, “Jerônimo, o herói do sertão”, foi ao ar em 1984 pelo SBT.

A extensa lista de trabalhos poderia ser maior, mas desiludido com o tratamento reservado à dramaturgia no Vale do São Francisco, Hertz Félix, hoje com 50 anos de idade, praticamente se despediu dos palcos em 2010 com a peça “Gaiola das loucas” e hoje limita-se a fazer figuração.

Perguntado sobre as razões que o levaram a desistir dos palcos, Hertz respondeu em entrevista ao Blog, em tom de desabafo. “Estou cansado de ver como as produções locais enfrentam tanta dificuldade para sobreviver, enquanto quem vem de fora recebe todo apoio”, lamentou.

Na entrevista, fez questão de ressaltar o trabalho isolado de empresários como Cláudio Barros, da Revale, políticos como o vereador José Carlos Medeiros (PV) e da própria imprensa, com destaque especial, nesse projeto, para a Rádio Tropicalsat. Esta poderia ser simplesmente uma reportagem sobre mais um espetáculo teatral da rica cena regional. Mas é preciso chamar a atenção sobre um aspecto importante de desenvolvimento: a cultura, que não deve ser preterida em uma época em que se anuncia expansão em diversos setores, especialmente no comércio.

O caso de Hertz pode ser considerado um alerta. Quando um dos maiores atores da região deixa de emprestar seu talento incomensurável a uma população que se ressente de grandes opções culturais, é algo a se lamentar profundamente.

O que se lamenta, mais ainda, é que não se trata de um caso isolado. Outro grande ator, Devilles, também responsável pelos mais brilhantes momentos do teatro em Juazeiro e Petrolina, já fala em deixar a região. Parece ser essa a fórmula para o sucesso: juazeirense de talento tem que deixar a região para poder brilhar para o mundo. É desnecessário dizer que essa fórmula serviu para muita gente famosa hoje no Brasil. É preciso citar alguém? (De Rinaldo Lima/para o Blog)