Despedida de médico cubano que se apaixonou e formou família no Sertão do Pajeú ganha repercussão

por Carlos Britto // 04 de dezembro de 2018 às 20:38

Miguel e Jessika têm uma filha de dois anos. (Foto: Reprodução)

Em Itapetim (PE), no Sertão do Pajeú, a despedida de um médico cubano vem ganhando muita repercussão. O ortopedista Miguel Lopez Valdes só trabalhará até esta quinta-feira (6) num posto de saúde da cidade. Depois disso, deverá retornar a Cuba. Ele, que era solteiro quando chegou à cidade em dezembro de 2013, retornará com uma esposa, uma filha e um enteado.

Sua saída iminente tem deixado triste uma população não acostumada a ver um médico se manter tanto tempo no mesmo cargo. Miguel, com média de atendimento de 30 pessoas por dia, tem recebido cerca de 60 pacientes nos últimos dias. São pessoas querendo saber se o cubano está mesmo deixando Itapetim, pedindo para que ele fique, trazendo presentes ou querendo um último atendimento com o doutor que eles aprovaram.

Eu me sinto grato. É uma situação difícil, muita preocupação dos pacientes. Mas de forma geral, me sinto feliz”, diz Miguel. Ainda em dezembro, o médico deve viajar de volta para Cuba, mas não decidiu se continuará vivendo na terra-natal. “É complicado ficar sem emprego. Acho que não dá para ficar aqui, infelizmente”, acrescenta.

Apesar da esposa de Lopez ser da área de saúde, eles não se conheceram por isso. A auxiliar de saúde bucal Jessika Elaine Amorim Vieira é filha da dona da pousada na qual o estrangeiro ficou alojado. “Quando Miguel veio para Itapetim, foi algo que se criou muita expectativa. Muita gente esperando. Da minha parte não houve expectativa, agi normalmente. Médicos por aqui, os que conheci, querem ser um rei. O paciente vai para a consulta com medo, não sabe o que falar. Mas minha mãe ficou muito surpresa com a simplicidade dele”, recorda Jessika.

Um almoço não programado em um bar da cidade foi a ocasião em que os dois se conheceram. Eles continuaram mantendo contato. Um namoro teve início. E depois veio Emily Vanessa, agora com dois anos e seis meses. Jessika, no início do relacionamento, já era mãe de um garoto de dois anos. “Meu filho hoje chama ele de pai”, diz ela, orgulhosa. “Eu nunca imaginei”, continua Miguel. “Eu estive em vários países e isso nunca passou pela minha cabeça, de casar fora de Cuba”.

Estimativa

Uma estimativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) aponta que 1,4 mil cubanos do Mais Médicos se casaram no Brasil. Miguel tem garantia de permanência no Brasil, não havendo risco de ficar em situação irregular no país. Temendo o desemprego, entretanto, Lopez deve voltar para Cuba. Uma viagem com a família já está sendo programada para dezembro e janeiro. Após isso, o destino deles deve ser selado. “Minha mãe está doidinha para conhecer minha família”, ele brinca.

Miguel tem recebido grande apoio da esposa, que está disposta a abandonar a carreira na sua cidade e seguir com o companheiro para Cuba. “Não me assusto em deixar minha cidade. A base é a família. Minha família é minha filha e meu marido. Onde a base da minha família for eu vou, e o que der pra eu fazer por ele eu faço. Eu não opino em nada. A decisão que ele tomar está tomada”, diz a auxiliar com firmeza.

O prefeito de Itapetim, Adelmo Moura (PSB), esteve no posto médico para cumprimentar o cubano e constatou o aumento de pacientes querendo ser atendidos por ele. “Eu recebi a notícia da saída dos cubanos com muita tristeza, eles são muito bons. Atendem a população muito bem. São treinados para fazer atenção básica. Tem gente que vem de outra cidade para ser atendido pelo Miguel”, afirma o prefeito. Para Adelmo, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) deveria ter recuado e negociado com mais calma a saída dos cubanos.

Apesar de uma médica já ter sido selecionada para assumir a vaga de Miguel a partir do dia 7 de dezembro, o prefeito já vê a saúde do município piorar. Um médico do programa Estratégia Saúde da Família (ESF) saiu de Itapetim para trabalhar no Mais Médicos de uma cidade vizinha. Lopez diz não gostar de falar sobre política, mas avalia que a saída dos cubanos é fruto de discriminação.

Saudades

Perto de se despedir da cidade onde conheceu a esposa e teve sua primeira filha, o cubano diz que sentirá saudades. Ele percebeu uma mudança no comportamento da população nos últimos anos. “Quando comecei aqui, a saúde era diferente. Hoje em dia tem melhorado muito, mas não só pelo meu atendimento”, afirma, compartilhando os louros. “Itapetim agora tem uma infraestrutura melhor. A população também mudou muito, a forma de pensar tem mudado. Hoje em dia a maioria sabe se expressar, está atenta e participa de palestras”. (Fonte: Portal LeiaJa)

Despedida de médico cubano que se apaixonou e formou família no Sertão do Pajeú ganha repercussão

  1. Marcos Cruz disse:

    Aí sim merece o nome de Médico, parabéns caro Miguel por seu esforço.

  2. Michelly Araújo disse:

    Agente aqui em São José do Egito também estamos tristes com a saída do nosso doutor Earl George do PSF do bairro Planalto , pois ele nos atendia sem presa e com muito carinho. Sempre lembrava de todos os pacientes principalmente aqueles que estavam em casa sem poder se deslocar até o posto de saúde. só tenho a agradecer por todos os anos em que ele esteve conosco. Obrigada Dr. George💖😭

  3. Fabio Porto disse:

    Carlos Britto, se comunica com esse prefeito e solicita a esse cara contratar o médico pelo município, já que ele demonstrou tão bom trabalho. Fico a pensar porque os gestores não conseguem viabilizar coisas simples. Seria bom para o profissional, bom para sua família, e principalmente e mais importante, bom para a população da cidade. Esse é doutor de fator e de direito. Os cubanos são sensacionais.

  4. GUIA DA RECONQUISTA disse:

    Olá! Gostei do conteúdo do seu site, muita informação boa, vou recomendar.
    Parabéns

  5. Ermilto disse:

    Esses cubanos não podem atender ninguém sem fazer a revalidação do diploma de médico, por isso os Prefeitos não podem contrata-los.
    Eles atendiam no programa mais médicos, porque Dilma irresponsavelmente não exigiu seus diplomas . Sabe lá se realmente são médicos. Prefeito nenhum da Pais pode contrata-los pra trabalhar. Se fizer isso é crime. Cubanos, façam o revalida, adquiram o CRM e aí sim, serão Médicos de verdade. O CRM tá de olho e Bolso não também.

  6. Ermilton disse:

    Esses cubanos não podem atender ninguém sem fazer a revalidação do diploma de médico, por isso os Prefeitos não podem contrata-los.
    Eles atendiam no programa mais médicos, porque Dilma irresponsavelmente não exigiu seus diplomas . Sabe lá se realmente são médicos. Prefeito nenhum da Pais pode contrata-los pra trabalhar. Se fizer isso é crime. Cubanos, façam o revalida, adquiram o CRM e aí sim, serão Médicos de verdade. O CRM tá de olho e Bolso não também.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Últimos Comentários

  1. Fiz o teste pra saber se o transporte público valia a pena, já que falam de um "planeta sustentável", peguei…