Artigo do leitor: Uma afronta aos pernambucanos

por Carlos Britto // 26 de abril de 2015 às 20:27

energia caraNeste artigo, o professor da UFPE e colaborador do Blog, Heitor Scalambrini Costa critica duramente os consecutivos aumentos na tarifa de energia elétrica em Pernambuco, quando a concessionária responsável pelo setor (Celpe/Neonergia), deveria ao menos melhorar a qualidade do serviço oferecido à população.

Confiram a íntegra do artigo:

É uma afronta aos pernambucanos, que sofrem com o precário serviço de fornecimento de energia elétrica, os benefícios tarifários concedidos à Companhia Energética de Pernambuco (Celpe). A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acaba de anunciar novo reajuste ordinário – a contar a partir de 29 de abril próximo. Para os consumidores residenciais, o reajuste foi de 11,19%, e, para as indústrias, de 10,91%.

Estes reajustes só são possíveis devido às “facilidades” incluídas no contrato de concessão (também chamado de privatização). Ao calcular o reajuste, a Aneel considera os custos que a empresa teve, incluindo custos típicos da atividade de distribuição sobre os quais incide o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), e outros custos que não acompanham o índice inflacionário, como energia comprada, encargos de transmissão e encargos setoriais. O IGP-M, índice adotado, apresenta valores superiores ao índice oficial da inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Portanto, está nos contratos de privatização a “armadilha” que torna os aumentos nas contas de energia tão exorbitantes. Neste modelo as concessionárias nunca perdem. Na realidade, ganham sempre, pois é um modelo de “capitalismo sem risco”.

O caso da Celpe é emblemático. A própria Aneel mostra que, desde 2011 quando começou a ser divulgado, o Indicador de Desempenho Global de Continuidade (DGC) da Celpe só tem piorado. Ou seja, cai a qualidade do serviço e o consumidor é penalizado com aumentos devido às “facilidades” contratuais para a sua concessão.

Ano                             DGC               Classificação

2011                            0,67             4º lugar (entre 33 distribuidoras)

2012                            0,84             16º lugar (entre 35 distribuidoras)

2013                            0,99             24º lugar (entre 35 distribuidoras)

2014                            1,11             27º lugar (entre 36 distribuidoras)

Some-se o fato de que novas “facilidades” podem ser criadas – como é o caso, neste ano, da instituição das bandeiras tarifárias (no caso da bandeira vermelha, com previsão para todo o ano de 2015, representa um acréscimo de 8,5 % em média na tarifa), cujos valores arrecadados vão direto para os caixas das distribuidoras. Segundo estimativas da Aneel, as distribuidoras devem arrecadar cerca de R$ 18 bilhões este ano. Estas empresas ainda pleitearam e receberam um reajuste extraordinário nas tarifas, que no caso da Celpe correspondeu a mais um aumento de 2,2%. E, agora, soma-se mais este reajuste ordinário.

Os afrontosos aumentos nas tarifas de energia elétrica, atividade essencial, não deveriam ser concedidos sem que, ao menos, se levasse em conta a qualidade do serviço oferecido. Em recente pesquisa popular realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), os próprios usuários dos serviços da Celpe atestaram que costumeiramente falta energia em suas residências. De 624 entrevistados, 555 (89%) consideram comum a interrupção de energia.

Como fica claro, pelos dados oficiais, a deterioração dos serviços prestados à população pernambucana, os aumentos nas tarifas se tornam uma recompensa a ineficiência. Um estímulo para o “quanto pior o serviço, maior o custo para o consumidor”.

Precisamos de respostas a esta situação esdrúxula. Não se pode admitir que a empresa continue a ter reajustes em suas tarifas sem que se tenha no mínimo uma contrapartida na melhoria dos serviços prestados.

Heitor Scalambrini Costa/Professor – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Artigo do leitor: Uma afronta aos pernambucanos

  1. Edilberto disse:

    Esse é o retrato de um País onde legisladores atuam visando beneficios e causas próprias , não respeitam a constituição nem necessidades fundamentais a vida.
    Serviços essenciais como AGUA, ENERGIA E TELEFONE deveriam pertencer ao
    estado, e sem fins lucrativos. Mais simplismente toda a estrutura basica, como redes de distribuição, foram construidas com o nosso dinheiro e entregue a iniciativa privada para nos explorar, com um péssimo serviço e preços exorbitantes.

    Edilberto

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