Artigo do leitor: “O Rio São Francisco afoga as mágoas em suas próprias lágrimas”

por Carlos Britto // 04 de outubro de 2015 às 07:20

acidente rio são franciscoO momento crítico pelo qual passa o Velho Chico levou o professor e ambientalista Vitorio Rodrigues a enviar um artigo ao Blog no qual chama atenção  para a grande degradação do rio. No texto o professor lembra a história do seu descobrimento e lamenta a tristeza do Rio São Francisco.

Acompanhem:

Presume-se que o rio tenha surgido há cerca de 65 milhões de anos, entretanto foi descoberto pelo “homem branco”, o navegador Américo Vespúcio, no dia 04 de outubro de 1501, cujo nome conhecido pelos nativos era Rio Opará. Mas em homenagem ao santo do dia, o navegador Florentino o rebatizou com o nome de Rio São Francisco.

Aos 514 anos depois, é apelidado de Velho Chico, Rio dos Currais, Chicão, Grande Linha de Comunicação, Rio da Redenção Econômica, Rio da Integração Nacional e por aí vai…mas o tratamento dado por todos que precisam dele não muda: é sempre de mal a pior.

Mesmo assim ele prossegue imponente. Mas agora, além de contemplação, pede também socorro. Rio da Integração Nacional, o São Francisco tem esse título por ser o caminho de ligação do Sudeste e do Centro-Oeste com o Nordeste. Ao longo desse percurso, que banha cinco Estados, desde sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até sua foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, ele percorre cerca de 2.700 km. 

O rio São Francisco é também o maior responsável pela prosperidade de suas áreas ribeirinhas compreendidas pelo Vale do São Francisco. No submédio São Francisco, cidades como Petrolina e Juazeiro experimentaram maior crescimento e progresso devido à agricultura irrigada. Nossa região apresenta-se atualmente como a maior produtora de frutas tropicais do país, recebendo destaque especial, também, a produção de vinho, em uma das poucas regiões do mundo que obtêm duas safras anuais de uvas. Mas tudo isso no momento está ameaçado pela falta d’água, que está batendo com força em nossas porteiras.

O transporte da água por canais impulsionou o PIB local, transformando a região em um dos maiores IDHs (Índices de Desenvolvimento Humano) do semiárido. Entretanto temos que priorizar nossa preocupação em aliar desenvolvimento com a proteção e a conservação ambiental, antes  que seja tarde demais e a situação se torne irreversível.

Em meio a tanto progresso, é com tristeza que constatamos a degradação deste patrimônio tão importante para nós, brasileiros, e o planeta em geral. Resíduos sólidos são jogados no rio, bombas de captação clandestina retiram água e devolvem diesel e agrotóxicos, lavouras são plantadas até a calha com a retirada total da mata ciliar, deixando as margens vulneráveis, as erosões dão origem aí ao assoreamento que, consequentemente, reduz sua capacidade de armazenamento; seu leito vai ficando mais largo e raso e a tendência é “chover para cima”, pois a evaporação se intensifica com a facilidade de aquecimento da lâmina d’água com a incidência dos raios solares.

Maiores e menores vazões:O Jornal do Comercio de Recife-PE, em sua edição do período de 27/08 a 03/09/2000, publicou um resumo histórico sobre as vazões registradas do Rio São Francisco desde 1919.

Segundo a matéria em 1919 o São Francisco registrou uma cheia, quando seu nível subiu 9 metros acima do normal, mas o registro da maior cheia que se tem notícia data de 1926, quando o nível do rio subiu 9,60 metros. Depois da criação da Chesf, a maior cheia ocorreu em 1979, quando a vazão nas comportas de Sobradinho atingiu aos 17.940 m3/s. 

Já no período de 1952 a 1956, registrou-se a menor vazão da história desde o descobrimento: 590 m3/s, onde a vazão média era acima de 1.800 m3/s em tempos normais. Talvez o “Chico” tivesse prevendo mais um dos projetos para tirar suas águas. Hoje os órgãos que fazem a medição quase que diariamente já registram vazões a montante da barragem de Sobradinho, mais baixas de que a menor registrada que se tem notícia.  

O Rio São Francisco em alguns trechos  já chora com sede. E o dia 04 de outubro, dia em se comemora o seu descobrimento, será que cai bem mesmo as comemorações? Ou seria melhor que todos nós nos preocupássemos o ano todo com o descaso ao qual ele está submetido diariamente? Devemos lembrar que o Rio São Francisco é original, inteiramente brasileiro, é único, não tem cópia.

Vitorio Rodrigues de Andrade/Ambientalista e Graduado em Licenciatura Plena em Geografia

Artigo do leitor: “O Rio São Francisco afoga as mágoas em suas próprias lágrimas”

  1. Pedro Henrique disse:

    Parabéns pelo texto. Só retificando o nome primitivo do rio em tupi: Para-i-tinga (Rio de águas claras).

  2. Luis Fernando disse:

    Parabéns pelo texto, professor. Ainda tenho fé que a população realmente comece a se preocupar mais com o rio e o meio ambiente no geral. Este texto mostra muito bem onde está a responsabilidade da população. Espero que aprendam.

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