Artigo do leitor: “O fim de um ciclo econômico”

por Carlos Britto // 08 de novembro de 2015 às 19:30

trabalhadora na fruticulturaO leitor Ênio Silva da Costa chama atenção, pegando como gancho o recente Fórum Permanente para o Desenvolvimento Regional (G-20), para a iminência do ciclo econômico do Vale do São Francisco, baseado na Agricultura Irrigada, estar chegando ao fim.

Confiram:

Recentemente aconteceu em Petrolina a formação do Fórum Permanente para o Desenvolvimento Regional, o G20-semiárido. Pelo que foi divulgado a proposta do G20-Semiárido é a composição de um Fórum com os vinte maiores municípios do semiárido, região que está presente em nove Estados da federação e possui 22 milhões de habitantes. As localidades são expoentes em atividades econômicas que vão de fruticultura irrigada à extração de petróleo, sendo responsáveis por um volume considerável do PIB nacional.

Os critérios de seleção dos municípios para a formação do grupo foram a densidade demográfica e a capacidade de influenciar a dinâmica de outras localidades, de acordo com cada setor econômico predominante. Levantamentos indicam que, juntas, as cidades acumulam um PIB anual de R$ 50 bilhões. As vinte cidades totalizaram no último censo cerca de 4.660.957 habitantes. São elas, do estado de Alagoas: Arapiraca; Bahia: Feira de Santana, Jequié, Juazeiro, Paulo Afonso e Vitória da Conquista; Ceará: Caucaia, Crato, Itapipoca, Juazeiro do Norte, Maranguape, Iguatu e Sobral; Paraíba: Campina Grande e Patos; Pernambuco: Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe, Garanhuns e Petrolina; e do Rio Grande do Norte: Mossoró.

A ideia é louvável, embora o G20 seja tão somente uma ampliação do conceito de RIDE – Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina/PE e Juazeiro/BA, que foi criada pela Lei Complementar nº 113, de 19 de setembro de 2001, e regulamentada pelo Decreto nº 4.366, de 9 de setembro de 2002. A Região Administrativa é constituída pelos municípios de Lagoa Grande, Orocó, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista, no Estado de Pernambuco, e pelos municípios de Casa Nova, Curaçá, Juazeiro e Sobradinho, no Estado da Bahia. Por isso, o que aconteceu com a RIDE?

O G20 amplia o debate para as universidades e abrange mais municípios e estados. O que torna a proposta mais ousada e cria a perspectiva de desenvolvimento mais igual e interligado para a região do semiárido brasileiro, fortalecendo a economia regional e dinamizando a circulação e interligação das economias.

Torço que o Fórum se fortaleça, embora acredite que vá se constituir tão somente como um encontro de prefeitos e secretários das cidades do grupo, perdendo grandes oportunidades de promover o desenvolvimento regional.
Durante o encontro para instalação do Fórum, o Vale do São Francisco foi pensando absurdamente no modelo econômico de desenvolvimento baseado no agronegócio (fruticultura irrigada, para eles). No contexto atual, a discussão deveria ser entorno de outros modelos de desenvolvimento que não tivessem o agronegócio como carro-chefe da economia regional. Pois com todo processo de degradação pelo que passa o Velho Chico, e em meio a um colapso ambiental, é obvio que estamos num final de ciclo econômico que teve o rio como vetor mais importante.
Pode acontecer com a nossa região o que Monteiro Lobato chamou de “Cidades Mortas” no Vale do Paraíba, depois que o ciclo do café se encerrou e deixou para trás cidades fantasmas economicamente mortas. Toda economia baseada em um único ramo produtivo acaba por ter esse final trágico.

Durante ao longo de mais de quinhentos anos o país viveu o fim de ciclos econômicos, alguns deles muitos conhecidos, tais como: o ciclo do pau brasil, do açúcar, do café; do algodão; da pecuária, da mineração; da industrialização. A finalização de um ciclo econômico é algo muito natural em todo processo de desenvolvimento, embora alguns ainda sejam pegos de surpresa. Parece ser o caso da nossa região.

Ênio Silva da Costa/Leitor

Artigo do leitor: “O fim de um ciclo econômico”

  1. GENRINO GABRIEL - disse:

    BELÍSSIMO ARTIGO, ÊNIO! REALMENTE, É NECESSÁRIO QUE SE PERCEBA QUE NÃO É POSSÍVEL “APOSTAR” TODAS AS FICHAS NUM DETERMINADO SETOR, SOB PENA DE SERMOS OBRIGADOS A SOFRER COM CRISES INTERMINÁVEIS, AO FINAL DE UM CICLO ECONÔMICO. RODELAS, MINHA CIDADE, ONDE SE INVESTIU, DEMASIADAMENTE, NO CULTIVO DO COCO (MONOCULTURA), ATRELADO À ATUAL CRISE HÍDRICA, TAMBÉM PODE SER AFETADA COM UMA GRANDE CRISE, O QUE A TORNARIA UMA “CIDADE MORTA”. E O PIOR DISSO TUDO É QUE, DE REPENTE, TERÍAMOS DE CONVIVER COM A FOME DE MUITAS FAMÍLIAS QUE DEPENDEM DESSA ATIVIDADE PARA VIVER E COM O AUMENTO DA VIOLÊNCIA URBANA, DEVIDO AO DESEMPREGO.

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