Artigo do Leitor: E se a operação “Carne Fraca” da Polícia Federal fosse em Petrolina

por Carlos Britto // 23 de março de 2017 às 16:33

O servidor público e Bacharel em Direito, Alex Sidney, leitor do Blog, aponta neste artigo, porque contesta os que defendem a reabertura do matadouro público de Petrolina. Ele faz questão de deixar claro no texto, justificando cada argumento de sua posição contrária a essa questão que vem sendo debatida na cidade já há alguns meses. Confira:

Petrolina é uma cidade encravada no sertão pernambucano, conhecida pela robustez econômica, dinamismo e pioneirismo. Contudo, como tudo na vida, tem fragilidades típicas das cidades Brasileiras, algumas correlacionadas às metrópoles, como a escalada da violência e desordenamento da ocupação urbana e outras comuns às pequenas cidades. É sobre uma dessas fragilidades que vamos nos ater nessas poucas linhas: A qualidade e origem da carne consumida na cidade.

Contrariando seu histórico de vanguardismo, por décadas a Município manteve funcionando um abatedouro público às margens do Velho Chico, sem a mínima condição de higiene, que exalava por muitos bairros da cidade um forte odor característico de carne apodrecida. Esse odor causava uma grande dúvida aos munícipes, se era produzido por um curtume ou pelo matadouro localizado na mesma região. O tempo passou, o matadouro foi fechado pelo Governo Júlio Lóssio e a questão foi resolvida: sim, àquele cheiro de carniça que torturava vários bairros vizinhos e universidades próximas eram provenientes do Matadouro mantido pelo poder público municipal.

Mas a poluição do ar não era o único problema do matadouro público, vez que as suas instalações serviam para um produtivo criadouro de urubus, moscas e outros animais não desejáveis em locais que se prestam a produzir os alimentos que consumimos. Além dessas mazelas, a vizinhança mais próxima era obrigada a conviver com os ritos macabros dos aboios dos algozes levando os animais para o abate e o grito agonizante das vítimas, que sucumbiam em um abate desumanizado. O Velho Chico, vizinho mais antigo, também reclamava do derrame em suas águas dos resíduos do abate.

Apesar dos absurdos acima narrados, a vigilância sanitária, órgão subordinado ao município, logicamente, jamais interditou o matadouro de seu patrão. A agência sempre se mostrou eficiente contra empresas privadas ou pequenos produtores de doce de leite e afins. Da mesma forma, outros órgãos de fiscalização de mostraram igualmente ineficientes em fechar o matadouro público, monumento medieval do atraso e da falta de sanidade da carne consumida em Petrolina.

Passaram-se os governos e finalmente a gestão Lóssio tomou uma medida ao mesmo tempo barata, inteligente e republicana. Fechou o matadouro e encaminhou o abate de animais para vizinha cidade de Juazeiro/BA, dotada de um frigorífico industrial com Selo de Inspeção Federal. Com uma só medida melhorou a qualidade da carne consumida na região, economizou para o município os altos custos com a manutenção do matadouro público, acabou com o conflito de interesse da vigilância sanitária municipal fiscalizar um equipamento do próprio município. Os apreciadores de carnes saudáveis, o ar, o velho chico e os vizinhos do antigo matadouro público, agradeceram.

Mas alguém reclamou. Nada é bom para todos, e um grupo de marchantes, capitaneado por alguns vereadores, fizeram dessa acertada medida palanque eleitoral e propuseram o absurdo, reabrir o matadouro público.

Quais os argumentos –  1. A carne de Petrolina não pode ser abatida em Juazeiro; 2. É mais caro abater no frigorífico certificado; 3. Pais de família ficarão sem emprego; 4. Aumentou o abate clandestino.

Pois bem, vamos analisar os argumentos:

1.        Por que a carne não pode ser abatida em Juazeiro? Melhor uma carne certificada de lá ou de um matadouro medieval de Petrolina. Ocorre que para se manter um frigorifico industrial certificado se faz necessário demanda, e se Petrolina sozinha contiver essa demanda, surgirão empresas interessadas em instalar-se em Petrolina. Enquanto isso, tirando o bairrismo fora de moda, nada impede que as cidades compartilhem os serviços, pois é melhor uma das cidades ter um aeroporto de ponta que as duas contarem com portos fluviais meia boca. Melhor um frigorifico certificado em Juazeiro que as duas cidades com matadouros medievais;

2.        De fato, é mais caro abater em um frigorífico certificado, mas acredito que ninguém em seu juízo perfeito prefira pagar alguns centavos a menos, por quilo, para ter uma carne de origem duvidosa;

3.        Os empregos como magarefe em um matadouro medieval como o de Petrolina têm que acabar, e os trabalhadores devem se reinventar na mesma cadeia produtiva ou em outra, assim como a tecnologia fez e fará em vários outros setores. Não dá para frear o avanço tecnológico em nome de um pequeno grupo que se recusa a evoluir.

4.        O combate ao abate clandestino é função e responsabilidade dos órgãos fiscalizadores, não se podendo reabrir um abatedouro com condições piores que os abates clandestinos para combater a prática ilegal. Em suma, o abate clandestino é ilegal, mas o abate no matadouro de Petrolina era ilegal vez que nunca atendeu as rígidas exigências sanitárias do Ministério da Agricultura (além de poluir o ar e ter sua criação de urubus e moscas), e imoral porque o poder público municipal bancou com nossos recursos a ocorrência de todos os fatos denunciados nesse pequeno artigo.

Por fim, conclamo o Prefeito Miguel Coelho à razão, para que veja a política para o bem de todos e não de um pequeno grupo e que se atenha em fazer a cidade avançar e não retroceder em um ponto tão importante. Antes de tomar decisão analise as seguintes questões:

O município de Petrolina vai dar licença ambiental de operação para o matadouro voltar a funcionar?

Vai ter estudo de impacto de vizinhança?

A Vigilância Sanitária Municipal/Estadual e Federal vão atestar inicialmente e depois regularmente a qualidade dos abates?

O matadouro vai ter Selo de Inspeção Federal?

O Ministério Público Federal vai aceitar a reabertura do equipamento em Área de Preservação Permanente?

Qual vai ser o custo para os cofres do município para reinstalação do matadouro? E o custo mensal para o município da sua operacionalização?

Dizem que essa medida é provisória, que o município pretende fazer um matadouro em outro local. Gastar esse valor de forma precária e provisória no antigo atende os princípios constitucionais de moralidade e eficiência, ao anseio dos eleitores que seus representantes tratem com zelo pelos recursos públicos?

Aguardamos sinceramente uma honesta reavaliação da decisão.

Alex Sidney – Servidor Público, bacharel em administração e Direito

Artigo do Leitor: E se a operação “Carne Fraca” da Polícia Federal fosse em Petrolina

  1. Só observo disse:

    Excelente texto, caro colega!De boa reflexão e informação. Pena que todos os movimentos e intenções nesse país são exclusivamente para favorecer grupos. Sempre tem que haver uma resposta com intenção obscura. Infelizmente!!

  2. Israel Sá disse:

    Se o Prefeito Miguel tiver o mínimo inteligência ele jamais irá reabrir o matadouro na sua antiga instalações que são precárias e ineficientes só para atender um pedido de uma minoria que são os marchantes e de dois ou três vereadores que na época fizeram dessa atitude acertada do então prefeito Lóssio para armar palanque eleitoral.
    Por fim termino aqui esse pequeno comentário com uma sugestão:
    Rajada tem um matadouro que atualmente se encontra fechado, porque que ao invés de reabrir esse aqui de Petrolina que só vai atender esses marchantes que na maioria não são daqui, reabrisse o matadouro de Rajada uma vez que quem realmente cria seus animais ficam situados na zona rural e não na zona urbana!!!
    Petrolina não pode mais retroceder, tem que evoluir

    1. Bergue R. Alencar disse:

      Boas colocações Israel!

  3. Bergue R. Alencar disse:

    Israel vc disse tudo, parabéns falou de forma ponderada sem atacar ninguém e de forma segura no que fala!!!

  4. Antônio Gomes disse:

    Magnífico e oportuno!!! Parabéns.
    Pena que a maioria não pensa como a gente.

  5. Bergue R. Alencar disse:

    Parabéns pela a fala Israel, vc foi muito bem nas suas colocações sem agredir ninguém e colocando sua opnião com muita firmeza!!!!

  6. Cego às avessas disse:

    Falei muito disso aqui durante a campanha eleitoral, quando muitos candidatos proferiram discursos críticos contra o fechamento do matadouro, a maioria fazendo apelos emotivos com claros interesses eleitoreiros. Falei que aquele matadouro era um lixão improdutivo, que nunca teve qualidade na prestação de seu serviço, que só estava servindo de cabide de emprego às custas do contribuinte. Mas as mentes estatólatras que imperam na cidade fizeram questão de me atacar com argumentos nada construtivos. E não adianta manter esse matadouro como serviço público, pois mesmo com reformas em 10 anos estará às moscas de novo, já que qualquer serviço público está fadado a ineficiência crônica. Se o petrolinense quer consumir carne barata e com qualidade só existe uma saída: desestatização e desburocratização do serviço. Abrir o setor para que empresas privadas possam disputar o mercado entre si, em uma concorrência saudável, sem benefícios fiscais ou qualquer outro tipo de incentivo perverso que cause concorrência desleal, gerando mais empregos e serviços mais baratos.

    1. Só observo disse:

      Verdade, cego às avessas. Naquela época você tocou muito nesse ponto e só quem acompanha e participa aqui sem partido ou intenção política mas como cidadão dos debates abertos que lembra.

  7. carlos disse:

    DISSE TUDO, REALMENTE UM PONTO IMPORTANTE GASTAR UM MILHÃO EM UMA OBRA QUE NÃO VAI SER PERMANENTE É DESPERDÍCIO DE DINHEIRO PÚBLICO.

  8. Marcos Andre Marques Alves disse:

    artigos como esse enriquecem o nosso conhecimento das demandas cotidianas da nossa cidade. a pureza a coerência e a imparcialidade do texto demostram um autor anti-partidarista voltado exclusivamente para as demandas do bem estar populacional de petrolina. parabéns ao autor do artigo e ao Carlos Britto pela oportunidade de sempre permitir a liberdade de expressão dos seus seguidores.

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