Artigo do leitor: Cidadãos de primeira e segunda categorias

por Carlos Britto // 16 de abril de 2015 às 18:00

Babá SérioAborrecido por conta de uma obra numa rua que liga a Avenida Cardoso de Sá com o Monumento da Integração, na área central de Petrolina, o radialista Omar Torres, o ‘Babá’, deixa sua crítica construtiva neste artigo enviado ao Blog:

Confiram:

Louvo a existência desse espaço, onde a exposição de ideias e o embate de opiniões encontram salutar e democrática guarida. Sei que muitos gostariam de utilizá-lo mais, porém, compreensivelmente, se recusam a ser alvo para os que, não possuindo conteúdo para o embate e o contraditório, se abrigam no anonimato para despejar agressividades, desqualificações e ofensas pessoais contra quem apenas propõe discussões de ideias.

Cabe aqui a propalada frase atribuída à Sra. Eleanor Roosevelt, de assertiva indiscutível: “Mentes grandes discutem ideias, mentes medianas discutem eventos e fatos, mentes pequenas discutem pessoas”.

Mesmo correndo o risco de ser incompreendido e malhado como um redivivo Judas pós Semana Santa, proponho a reflexão e a discussão da prática nociva que, ainda que fira e incomode a alguns, é aceita passivamente pela maioria. Falo da arraigada e bem sedimentada cultura de que as conveniências individuais podem se sobrepor aos direitos da coletividade.

Cito como exemplo a Rua Araripina, uma importante artéria que liga a Av. Cardoso de Sá com o Monumento da Integração. Ela está sendo interrompida várias vezes por dia, nos dois sentidos, para que caminhões basculantes e retroescavadeiras carreguem e descarreguem materiais em grande obra que ali está sendo executada. As calçadas, dos dois lados, estão totalmente obstruídas por britas, pedras, areias e outros materiais de construção que ocupam até a metade da via, obrigando aos pedestres disputarem o reduzido espaço com automóveis e motocicletas. Enquanto centenas de cidadãos são desrespeitados diariamente no seu direito, a sensação reinante é a de que o mais importante está garantido: a conveniência dos construtores que privatizam  o espaço  público.

É difícil acreditar que aquela obra tenha sido autorizada por órgãos públicos, tal como está sendo executada,  como é fácil acreditar que jamais foi fiscalizada.

Ainda que sempre ouçamos aqui, ali e alhures que “todo cidadão é igual perante a lei”, é inegável que existem os mais iguais. A letra fria da lei diz uma coisa, a emoção acalorada de quem a aplica faz outra e no meio, nós, os cidadãos comuns, que mesmo revoltados,  somos  compulsoriamente empurrados para a vala rasa da segunda categoria.

 Omar Babá Torres/Radialista

Artigo do leitor: Cidadãos de primeira e segunda categorias

  1. ailton jose muniz da silva disse:

    Caro amigo Babá, compartilho do seu problema.Hoje fiz mais uma travessia dessa rua. É uma verdadeira travessia. No momento em que redijo, ouço, em alto volume sons(barulho) provenientes da casa de show Varanda do Rio e Ana Petiscaria. O incômodo persiste ,debalde denuncias à Promotoria Pública, Prefeitura, Policia. Até hoje não recebemos resposta.Pergunto qual dos infernos poderemos escolher.Cuba agora deverá ser um ótimo porto.Engana-se se pensa que somos de segunda categoria, é muito otimismo da sua parte.

  2. Pedro Emílio disse:

    Prezadíssimo e admirável, Babá!
    Ótimo texto (como sempre). Entendo que o desenvolvimento é um processo desejado e necessário. Isso, porém, não pode significar prioridade sobre o direito de todos.
    Ainda não quero falar em justiça. Quero lembrar que o setor de postura e ordem pública da nossa prefeitura é o responsável por corrigir (ou não) o exagero da rua Araripina.

  3. pessoa comum disse:

    Eu tenho percebido que de uns tempos para cá, petrolina está virando terra sem lei. Parece uma esculhambação geral. Parece um “ajuntamento” de gente que não se importa se está ferindo os direitos das outras pessoas, achando que o mundo é somente seu. É assim no trânsito, é assim que faz o famoso tranca rua, é assim que faz aquela pessoa que acha que pode acordar a vizinhança de madrugada, etc, etc. É triste.

  4. Rosa Alves disse:

    Concordo plenamente com suas colocações, e fico muito feliz quando vejo esse espaço usado para exposição de ideias, críticas construtivas, denúncias, pontos de vista, etc, etc. A mim também constrange e intimida fica a mercê dos que “não possuindo conteúdo para o embate e o contraditório” fazem mau uso do espaço, às vezes, tão somente para tecer comentários duvidosos, de mal gosto e/ou causar escárnio. Recentemente fiz um apelo aqui no blog para usarmos esse canal de forma consciente, otimizando e disponibilizando o espaço para debates produtivos. Quiçá como sua denúncia, surta algum efeito.
    Não é de hoje que os espaços públicos de nossa Petrolina são usurpados e utilizados a bel prazer dos “mais iguais”. A exemplos de construções em canteiros públicos como na Avenida Monsenhor Ângelo Sampaio, calçadas ocupadas por bares e restaurantes, os famosos “ferro velho” colecionando sucatas de veículos e apossando-se dos espaços públicos, impedindo o direito de ir e vir garantido na Constituição, desfigurando e enfeando nossa cidade.
    Se nos calarmos, se não nos colocarmos, nos organizarmos para defender nossos espaços, chegará o dia que não seremos mais capazes de reclamar. Chegará o dia que estaremos tão cansados e desiludidos que só nos restará lamentar nossa vulnerabilidade, nossa incapacidade de defender nossos sonhos, nossas famílias, nossa cidade…
    Se nada for feito, só nos restará nossa covardia…
    …“E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada…”

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